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Reforma por Reforma

Israel inicia sua caminhada com um projeto tribal, de trabalhadores rurais. Aliás, a religião israelita, bem como todas as semíticas, nascem do campo, onde as manifestações naturais são mais explícitas e mais reconhecidas como manifestações divinas. Diante do misterioso, dos benefícios na terra e das catástrofes no campo, chamarão de Deus o desconhecido.

O campesinato buscava manter essa vivência comum. Tudo era dividido entre todos e as festas, cheias de fartura, flagravam a comunhão daquela gente simples. 

A partir do séc. X, a monarquia se instala e o trabalho, de libertador, passa a ter uma imagem de exploração. Toda aquela manifestação selvagem da natureza torna-se controlada pela teologia da corte. 

Enjaularam Deus e escravizaram os trabalhadores. 

A terra, agora, não passava de promessa de Deus para aqueles que dela viviam.

Josias foi rei aos 8 anos de idade. É óbvio que neste período quem reinou foi quem o pôs assentado no Trono: o campesinato. Daí em diante, as coisas começaram a melhorar. Deus estava ao lado deles. A terra era o sonho ressuscitado. Até uma nova fase da reforma. Agora, Josias, adulto, toma as rédeas nas mãos e centraliza o culto, o sacrifício, em Jerusalém. Acabou a liberdade. Tem que ser perto do rei. É ele quem manda. Então, o camponês volta a sentir-se obrigado a pagar pedágio para viver, para adorar, para ofertar. (Claro, a história aqui está sendo deveras reduzida)

Tudo isso vai indicar mais uma coisa: algemar o sagrado num lugar e ter, pela contribuição involuntária dos camponeses, seu reino assegurado. 

Por que penso isso hoje?

Porque é o mesmo pensamento de outrora. Temos trabalhadores que vivem suas vidas, seu lugar sagrado, sua casa, sua família, seu lazer, e tudo o que se pretende, aos olhares da corte religiosa, é engoli-los retirando deles toda a oportunidade de vida, de promessa, de terra, de paz, e jogá-lo para as grades de um lugar. Ou seja, o ser humano passa a viver para agradar ao rei e ao templo. O trabalhador trabalha para colaborar com o templo, e não mais com a vida, com os seus e com os necessitados. O trabalhador trabalha a fim de ser um mantenedor do reino estabelecido "violentamente" sobre a sociedade.

Penso isso hoje porque, a bem da verdade, muitos também pensam, mas quase ninguém esboça alguma atitude. Penso nisso porque acredito na possibilidade de se viver a religião desarraigada do funcionalismo da vida no templo, por causa do templo, em favor somente do templo, para uma sociedade do e no templo. E tudo isso por causa do "rei".

Acredito na possibilidade de vivermos uma religião cujo sagrado (não da forma plenamente crida na religião tribal) seja selvagem, ou seja, incapaz de ser domado. Acredito na possibilidade de vivermos uma religião cujo objeto mais sagrado seja a vida. E se houver (e há) vidas carentes, que se desmonte o templo em favor delas. Que se perca a tradição porque delas! Que se emudeça o dogma por causa delas!...

Acredito na possibilidade de uma religião capaz de satisfazer não somente a vontade de viver depois da morte, mas de viver a vida com os relacionamentos que dela surgem. Acredito na possibilidade de uma religião frágil, capaz de olhar para o outro e perceber-se a si mesmo nele.

Acredito numa religião capaz de salvar os órfãos e viúvas de solidão desgraçada, de vida sem sentido, de resto de nada. Acredito numa religião capaz de ligar o Homem ao Homem, às respirações, à autenticidade.

Acredito na religião da terra, onde a terra é sagrada, onde o ser humano é sagrado, onde Deus se faz presente apenas quando tudo isso é levado muito a sério, caso contrário, trancafiamos os pobres coitados, enjaulamos Deus e convivemos com a mesa farta da corte dizendo a todos: vamos salvar o mundo...

Só se for "de nós" mesmos.

LELLIS

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