As provocações teológicas fazem bem. São o termômetro do fundamentalismo (em sentido pejorativo) religioso. Então, iniciemos o assunto:
Falar que o Reino pregado por João, o batista, não satisfez ao coração de Jesus pode ser inquietante aos ouvidos daqueles que já tem meus escritos como bombásticos (o que está longe de acontecer). Mas acho importante falar sobre isso.
Jesus é batizado por João e segue a vida. Há discípulos de Jesus e há discípulos de João. Há a mensagem pregada por Jesus e o Reino pregado por João.
O batismo de João é judeu. É tradição de gente que precisa voltar para o Eterno. Não tem novidade. É o retorno necessário porque Deus está irado e Seu Reino está por vir. É algo apocalíptico. João coloca o dedo na cara de quem quer que seja e fala o pecado. Não tem papas na língua. Diz o que pensa sobre Deus e o que sente estar sendo guiado por Deus.
Jesus vai lá. É batizado por ele, mas segue outro rumo. Não se encontram mais.
Interessante. João fala que vem alguém do qual não é digno de desatar a correia das sandálias. Tradicionalmente se afirma que João já sabia que era Jesus. Tudo bem... mas para onde foi João? Fazendo discípulos para si. Batizando-os. E o que fez de Jesus? Falou de Jesus? Não. Pregava o Reino e (re)batizava os que se arrependiam. Rebatizar é a palavra ideal.
Vale lembrar que todo o judeu era livre para batizar a si. João diz que tem que ser com ele. Tem de passar por um sério arrependimento e mesmo assim não dá garantias da parte de Deus.
Jesus vai por outro caminho. O Reino tem outro aspecto na boca de Jesus. E não dá para tentar amarrar. Não dá. Está livre para interpretações a mensagem. São primos, tudo bem. Também tenho primos da mesma denominação e pensamos diferente sobre o Reino.
Inspirado? Claro que fora inspirado. Por que não? E por que não dizer que há pensamentos divergentes? Gente, são gentes. E Deus age aí. Tem gente que foi no batismo de João. Legítimo. Tem gente que deixou a turma de João, como alguns dizem sobre Judas. Loucura. Não sei, mas certamente alguém saiu de lá para cá, de cá para lá. Legítimo.
Para Jesus, o Reino não está ali nem acolá, mas dentro. Ele não vem. Ele já chegou. O esquema apocalíptico é de João e também posterior a tudo o que vivera e dissera. Jesus se dá ali. Jesus encara as pessoas com a bondade e com a servidão. Vem para mostrar o Deus amigo e solícito. O Deus irado e o Reino da destruição não acontecem na pregação daquele que vem para salvar. Antes, nele, no caminho para a cruz, e na morte pela cruz, acontece toda a manifestação - segundo a teologia clássica - da justiça de Deus.
Em João Batista temos o Reino que vem de uma forma perigosa. Em Jesus, temos o Reino que chegou para a salvação de gente que fora descartada do "Reino". Se João veio preparar o caminho para Jesus, preparou errado. Pelo menos não foi a maneira que Jesus andou por ele. Foi bem mais leve. Não foi um retorno ao Eterno, mas uma visita do Eterno aos colocados à distância.
Na boca de João, nós vamos ao Eterno. Na vida de Jesus, Deus veio aos humanos.
Eu fiquei com o último.
NA GRAÇA
LELLIS
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