Foi a frase de Feuerbach que chamou minha atenção: "A
afetividade é o Deus do homem; sim, o Deus em si, o ente absoluto. Deus é a
essência da afetividade enquanto objeto para si mesma, a afetividade ilimitada,
pura".
Guardadas as devidas proporções, podemos responder as tantas conversões às religiões mais diversas no Brasil. Alguns se perguntam de cabelo em pé como é possível fulano converter-se a determinada religião. A resposta pode estar na frase de Feuerbach. Muito do que o ser humano deseja é afeto. O afeto é Deus pra ele, o Deus absoluto. O sujeito não pensa em eternidade, mas interessa-se em curar seus vazios mais intensos.
Quando um ser humano consegue encontrar abrigo para a sua alma, por ali mesmo arma sua tenda. Conhecemos gente que saiu do catolicismo e foi para a umbanda, da umbanda para o protestantismo, do protestantismo para o espiritismo, etc. É claro que muitos dirão: "saíram daqui por nunca foram dos nossos". Talvez uma resposta paralela também se encaixe: "saíram daqui porque Deus deixou de ser afetuoso através de nós".
Obviamente, Feuerbach era materialista, entretanto, conseguimos lançar essa ponte a fim de iluminar crentes no que se refere ao tato, ao abraço, ao regaço, à atenção...
Não digo com isso que o fato de abrirmos as portas do afeto, ajudará o ser humano a manter-se dependente da religião ou da fé. Pelo contrário, creio que só poderá haver fé se houver e quando houver afeto. Não é uma dependência doentia, antes, uma interdependência das partes. Não há sentido sem o outro. E o afeto jamais poderá ser real na solidão.
É claro... o texto deveria ser uma crítica aos caminhos críticos porque andam os evangélicos. E não digo isso por uma via proselitista. Definitivamente! É porque poderíamos ser muito mais bondosos se a secura dogmática não dominasse e encabrestasse a alma retirando dela todos os afetos inventados quer por nós, quer por Deus.
Certamente, enterrados por nós.
NA GRAÇA
LELLIS
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