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Uma representatividade evangélica no Brasil


Desde o mês passado, com a renúncia de Ratzinger, o papa Bento XVI, tem-se escrito um vasto número de artigos e comentários a respeito do "representante" do catolicismo. Enquanto Jorge Mario Bergoglio, o novo papa, chamado de Francisco, toma as rédeas desta representatividade, os cristãos protestantes também fazem suas análises. 

Todavia, o que chamou minha atenção foi uma breve frase facebookiana do meu professor, Dr. Júlio Zabatiero. Não se trata da temática acima, mas levou-me a refletir sobre uma representatividade evangélica, já que as duras críticas e especulações saltam aos olhos sobre essa transição papal e a imagem evangélica midiática. Segue:

(...) quem representa os evangélicos brasileiros hoje? Ninguém. Pois não há mais ‘os evangélicos brasileiros’. Existimos apenas como indagações peregrinantes - temos uma ideia razoável a respeito de que ‘não somos’, mas quando tentamos traduzi-la em termos positivos, fracassamos redondamente. Assim, me parece, a pergunta a se fazer deveria ser: ‘quem somos nós os assim-chamados evangélicos?’”

A frase supracitada constata a fragmentação do movimento evangélico na nação brasileira. O povo evangélico jamais teve, no Brasil, um "representante legítimo", capaz de conjugar todas as denominações e teologias. Impossível. E se formos mais profundamente, nem o catolicismo, pois jaz na diversidade. 

Temos uma história de recentes tentativas: 

No final da década de 80, o pastor batista, Nilson do Amaral Fanini, assume a mídia como proprietário da TV Rio até a compra da Rede Record, nos idos dos anos 90. Caio Fabio, com seu poderoso modo discursivo e por dizer o que todos desejavam dizer, acabou arrebanhando inúmeros adeptos de diferentes denominações (mas o caso com a IURD foi quente!). E não foi por falta de aviso. Num dos congressos da AEVB, salvo engano em 94 ou 95, o sociólogo, quase profeta, Paul Freston disse que não se deveria apoiar a Associação sobre uma só pessoa. Aconteceu o que aconteceu. Caio saiu da mídia. Divórcio, política e muitas dúvidas que ainda rondam esse ícone da história dos líderes protestantes do Brasil.

Existem inúmeros outros que “contribuem” com "mensagens bíblicas" na mídia, mas não tanto quanto Silas Malafaia, Edir Macedo, RR Soares, Waldemiro Santiago. São os quatro mais envolvidos com a mídia. Temos também o Pr. Marcos Feliciano, altamente criticado com sua participação na Comissão dos Direitos Humanos. 
 
Diante de tantas transições e personagens participantes da mídia, da política nacional, das atividades sociais em destaque, fica ainda o questionamento: “quem poderia ou deveria representar os evangélicos?”

Seriam aqueles que dizem não ao aborto, ao homossexualismo, à pedofilia?... Seriam aqueles que discutem a respeito das religiões afro-brasileiras?... Seriam aqueles que discordam veementemente das imagens de esculturas e cultos bárbaros?... Seriam aqueles que afirmam que a teologia liberal não passa de uma estratégia diabólica? Quem seria o representante?

Zabatiero termina sua frase fazendo a pergunta certa. A questão não é saber quem pode ou não ser o representante, mas quem somos nós, os evangélicos? Há uma estrutura partida, não definida. Há interessados, há envolvidos, há os que interpretam que 1 e 1 são 2 ou que 1 e 1 são 11. Há os que afirmam ter a primazia, há os que fingem não saber...

Há os que preferem uma representatividade porque, afinal de contas, esse negócio de ser sal e luz na própria comunidade tornou-se fora de moda. A questão agora é tratar do alto escalão. Tudo começa de cima para baixo. 
 
A pergunta é lançada. É lançada de forma auto-crítica. Auto-crítica e convidativa para que outras religiões ou quem sabe até mesmo o catolicismo se sinta tentado a pensar que todos somos representantes do Cristo e que ninguém tem condições plenas de representar Cristo em nós - a não ser nós mesmos.

A conversa é longa e, por isso, tentadora a tentativa de apontar um que represente sem escândalos ou generalizações anti-éticas. Acho que um alguém que olhe simplesmente para o povo todo, sem distinção, sem separação, sem julgar nem mesmo a religião alheia, este sim, poderia ser alguém de quem se possa declarar: aí está um bom homem. Não um representante, mas um bom homem de Deus.

NA GRAÇA
LELLIS


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