Há muitas criações e histórias sobre Jesus. Há muitas de suas facetas por aí. Há especulações. Há variáveis, certezas e dúvidas - muitas dúvidas. Livros são escritos e debates infindos sobre sua personagem estão sobre diversas mesas. Quem é Jesus?
Não importa, no contexto em que vivemos, declarar que Jesus é somente aquele que nossa comunidade religiosa diz ser. Também. Mas nosso axioma cai por terra quando se depara com aquela igreja que fica logo ali, na esquina, porque, afinal de contas, Jesus é também aquilo que dizem ser.
E quem disse que eles estão corretos em sua hermenêutica? E quem disse que "nós" estamos certos? É claro, nossa resposta é lógica: "Pregamos o Jesus da Palavra". E eles, não? "Não", diremos. Mas, com qual certeza?
- "De nossa simples tradição religiosa. Aquilo que disseram a nós, é o que vale. O Jesus dos outros não vale, não é bíblico nem atraente."
Talvez seja perigoso dizer, mas direi: Jesus é quem dizemos que é.
Se a tradição religiosa diz que ele é amor, os seguidores dirão que é amor; se aquela outra diz que é fogo consumidor, seus discípulos assim entenderão; se o tal pregador afirmar que o mundo é atingido por tsunami por causa da ira de Deus, seus ouvintes concordarão balançando a cabeça; se o pastor - que tem o microfone nas mãos - concluir que Jesus voltará daqui 30 dias, a igreja se mobilizará para missões.
Jesus é aquele que dizem ser. Jesus é conhecido na boca dos outros.
Não me incomodo mais com isso. Sei que há o Jesus do troca-troca, do absolutismo violento, não dialogal, cheio de certezas quanto à saúde física e vida eterna na terra; sei que há o Jesus gospel, das musiquinhas incansáveis e repetitivas, inculto e nada criativo; sei que há o Jesus que manda pro inferno, que julga e escolhe, que meneia a cabeça negativamente quando uma criança corre no templo; sei que há o Jesus que aponta o dedo, que comanda políticas públicas como se não houvesse ser humano na terra capaz para isso; sei que há o Jesus comandado por pastores, padres, líderes e tantos outros; sei que há muitos desses. Eles existem, bem como seus seguidores. Volto a dizer: não me preocupo com isso.
Quero, para concluir, deixar por minha boca, quem deveria ser Jesus nos nossos dias.
Deveria ser aquele, apresentado, não na boca de gente canalha que usa um nome para obter lucro sobre essa clientela, mas por gente que se interessa pela vida e o sofrimento alheio para propagar uma mensagem de esperança e vida em tempos cruéis.
Deveria ser aquele, cujas mãos ainda tocassem o excomungado da sociedade, os homossexuais, os prostituídos, os sós, os doentes, os vacilantes na fé, os bons, os maus, os ateus, os crentes, o diferente, o maldizente, o infernal.
Deveria ser aquele, cujos pés alcançassem o topo da árvore com as crianças e adolescentes, que fossem aos confins de um hospital do câncer para sapatear diante de crianças enfermas só pra tentar fazê-las um pouco felizes.
Deveria ser aquele, cujos olhares penetrassem a dor que quem sente a dor para sentir compaixão, que fossem além das quatro paredes e pudessem vasculhar os cantos mais empoeirados da cidade.
Deveria ser aquele, cujos sentidos estivessem envolvidos com o ser humano e os problemas da sociedade, e não um Jesus que ordena um serviço a todo custo, porque Jesus não veio para servir e sim para ser servido. E se este é o exemplo maior de Cristo, a sua apresentação pessoal, porque inventamos tanto? Por que queremos tanto que Jesus seja além de um servo - e por isso plenamente divino?
Sejamos servos uns dos outros, assim como ele o foi. Assim, sem usarmos a boca, apresentaremos um Jesus mais humano, mais próximo de nossa dor, mais divino e muito mais Ele mesmo.
NA GRAÇA
LELLIS
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