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Um missionário não deveria viver pela "fé"

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Ontem, dando aulas sobre Ética, não sei por que cargas d’águas entramos no assunto sobre sustento missionário. Acho porque isso já se tornou estudo de caso. Pois bem, lá estávamos. 

Muitas igrejas sustentam seus missionários com o pão que o diabo amassou. A impressão que tenho é que quanto mais missionários uma igreja sustenta – ou participa com certa quantia – melhora seu status.

Minha censura (isso depende – é claro – do caso) se deve à forma em que lidam com seus enviados, como os sustentam e como encaram a vida de seus familiares. Existem juntas missionárias que já entenderam a crise e não enviam mais sem que o casal missionário (ou mesmo solteiro) esteja com certo salário garantido para o campo. Algumas sabiamente estipulam o valor base. Caso contrário, devem visitar 500 igrejas com o intuito de sensibilizarem líderes e membros para o sustento.

Digo isto porque há missionários que passam dificuldades no campo. Você me pergunta por quê? Respondo: porque disseram na igreja dele que o justo tem de viver por fé. Engraçado, a igreja que envia não vive com toda essa , não é mesmo? Os filhos estudam em colégio particular, fazem o inglês, têm plano de saúde, internet, celular(es), mp8, carro funcionando (ah, o carro! Porque carro de missionário... no comments). Parece que viver pela fé tomou o sentido de “seja lá o que Deus quiser pra você”.

Alguns ganham o mesmo valor desde há 8, 10 anos atrás. Não se assustem... isso é só o que sei. Contas atrasadas (e não é de prestação de móveis, roupas... estou falando de água, luz, farmácia), saúde debilitada, recreação em débito com os filhos e esposa e etc...
Não temos espaço para contar as tantas covardias que são cometidas com esses "pobres homens" e essas sofridas mulheres em campo missionário.

Você ainda poderá espiritualizar a coisa e aumentar a discussão: “Não, mas eles são sustentados por Deus e o Senhor supre suas necessidades”. É claro, meu nobre amigo, pra eles Deus deve suprir mesmo, senão morrem de fome, doentes, esquecidos. Ainda bem que existe um Deus pra eles. Aliás, cada um tem o Deus que crê, não é mesmo? É por isso que fazem o que fazem. Não reclamam porque fazem por amor a uma causa que transcendeu a ética de cada um e, até mesmo, o amor próprio.

Faço aqui minha parte. Tento, na verdade. A parte que não os cabe (do grito, porque o amor deles é maior que o meu e por isso são como que ovelhas mudas caminhando para o matadouro) fica por minha conta. Permito-me ser um profeta aqui. Quero encarnar a paixão de um profeta e denunciar essa coisa toda; gritar por socorro porque posso ainda ser lido. Se se acredita que o Evangelho ainda causa impacto e melhoras numa sociedade transcultural (ou não), deve-se rever essa questão de um missionário viver pela fé. Por esta fé, não vivo eu. Não a desejo pra ninguém.

De certo que muitos têm o que contar por viverem por ela, mas não precisariam.
De certo que muitos vivem "felizes" por simplesmente servirem ao seu Deus. E aprenderam a viver felizes em qualquer situação.
De certo que muitos possuem frutos do penoso trabalho.
De certo que dão sentido às suas lágrimas e dores ao lerem que "todas as coisas cooperam para o bem".
De certo que aprenderam a vislumbrar a eternidade como um único bem.
De certo que anularam-se a si mesmos por causa do outro.
De certo... De certo...

Mas até quando? Até quando viveremos olhando no olho de cada um sem corar o rosto? Até quando? Será que a saída serão as tendas? Sim, porque bem me parece que são pesados a nós. Talvez queiramos isso mesmo. Deixem viver de tendas, como Paulo; seria mais digno do que viver pela .

NA GRAÇA
LELLIS

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