Trabalho textos em dois blogs. Este e o ventosmodernos, que divido com professores (e) amigos. O blog nelsonlellis dirige seus textos especialmente ao público da eklésia. Tento ser o mais claro possível em minhas abordagens e reflexões sobre os temas da religião e da sociedade que envolvem os mais diferentes comportamentos desse modo espiritualista de ser.
Pensando nisso, resolvi revisitar alguns textos meus de 2007 em diante nesta página e descobri que vários (vários, eu disse) não satisfazem como satisfaziam há 5 anos atrás. Não os pregaria novamente. Não os enviaria a nenhum amigo. Talvez, eu os modifique com o tempo. E preciso de tempo pra isso. Talvez não. Talvez os deixe ocupando o lugar de quando assim pensava.
Toco nesse assunto porque inúmeros amigos descobriram que não dá pra conviver (ou a palavra seria negociar?) o eu passado e as produções de outrora com os aprofundamentos e insights de hoje. Convenhamos: muito do que fora produzido não passa(va) de mero senso comum.
Ora, e o que vem a ser isso?
Abre parênteses.
Quando havia algum tipo de interferência na TV, costumávamos colocar um pedaço de palha-de-aço (ou esponja-de-aço, ou lã-de-aço). Ajudava muito. Funcionava. Era interessante visitar a casa de alguns amigos e no momento de assistirmos algum programa, lá estava a palha-de-aço. Que alegria!
Era extremamente cruel passar um final de semana na casa de algum familiar, e não ter no armário uma só bendita esponjinha daquelas.
Fecha parênteses.
Poderíamos dizer que senso comum é a resposta simples para um problema cotidiano. Não precisa pensar, basta reproduzir. Está pronto. É só olhar como foi feito, fazer e passar adiante para que continuem fazendo.
Quero pensar em alguns de meus textos antigos e nessa espiritualidade das respostas prontas. Respostas prontas para quaisquer situações. Outro exemplo? Tento não quero ser indelicado, mas lanço um desafio. Envie uma mensagem de encorajamento, no estilo de Augusto Cury, Max Lucado, Pe. Marcelo Rossi, Pr. Jorge Linhares, para dez pessoas de sua lista telefônica. É claro!, você receberá respostas como:
- Puxa, estava precisando ler isso num dia tão difícil que tive.
- Nossa, como você soube que precisava de uma mensagem assim?
- Deus usou sua vida para falar comigo hoje.
Se eu levasse minha esponja de aço para a casa de qualquer um, daria certo. Sabe o motivo? Porque o negócio está pronto. Para "solucionar" (poderia trocar essa palavra pela expressão "dar sentido a") um problema rapidamente, basta dizer o que todos dizem. Está posto. Quem dirá o contrário quando se diz que Deus disse ou que Deus quis assim?
Mas continuo defendendo que pensar fora da cartilha dói.
Segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, a alienação acontece quando o homem não se vê como sujeito (criador) da história e, nela, capaz de produzir obras.
O senso comum religioso seria um peso ou uma forma de não querer liberta-se de um "D'us" que tem respostas pré-prontas para tudo e todos nas mais diversificadas situações? Poderia afirmar que as respostas prontas são um embaraço, um engessamento do humano sobre outro humano para, simplesmente, apontar para D’us e deixar a possível solução de lado?
Prezados, a solução não deveria estar na boca de quem conhece esse jogo. Mas de quem pergunta, de quem busca, de quem luta, de quem chora junto.
Outro dia alguém disse: “precisamos conversar com o Nelsinho; anda falando coisas estranhas”.
Pois é... até quando a gente vai preferir encarar os programas evangélicos da TV e engolir o senso comum? Até quando vamos ler as Escrituras e entender como se quer entender? Até quando vamos ouvir determinadas mensagens e selecionar tão somente aquilo que nada causará mudança real?
Sim amigos, poderemos conversar, mas vamos antes definir em que língua. ("Ah...! Bondade sua me explicar com tanta determinação / Exatamente o que eu sinto, como penso e como sou / Eu realmente não sabia que eu pensava assim")
NA GRAÇA
LELLIS
Mais do Mesmo (Renato Russo) Ei menino branco o que é que você faz aqui
Subindo o morro pra tentar se divertir
Mas já disse que não tem
E você ainda quer mais
Por que você não me deixa em paz?
Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim
E agora você quer que eu fique assim igual a você
É mesmo, como vou crescer se nada cresce por aqui?
Quem vai tomar conta dos doentes?
E quando tem chacina de adolescentes
Como é que você se sente?
Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel.
Sempre mais do mesmo
Não era isso que você queria ouvir?
Bondade sua me explicar com tanta determinação
Exatamente o que eu sinto, como penso e como sou
Eu realmente não sabia que eu pensava assim
E agora você quer um retrato do país
Mas queimaram o filme
E enquanto isso, na enfermaria
Todos os doentes estão cantando sucessos populares.
(e todos os índios foram mortos).
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