Ainda procuro um melhor título para esta reflexão...
Para
começar, a ideia de que o mundo gira em torno de nós é sempre muito latente. O
mundo do outro sempre nos sugere a estranheza. O rosto do outro nos é o
inverso da beleza. E o sentimento narcisista vai consumindo-nos dentro de
vários mundos em que habitamos, a começar pelo mundo religioso.
Os que são de religião, sobretudo, as de missões, não conseguem encarar a diversidade e apreender as culturas, os fenômenos, as belezas alimentadas pelos povos, pelas etnias. Como que por uma breve defesa (ou quem sabe, novo ataque), erguem o assunto violência para combate da religiosidade e do mundo alheio. Mas a História deixou registrada que as religiões - sobretudo as de missões - não podem esticar o dedo para julgamento como se seu próprio passado não as denunciasse. Fazem parte das maiores catástrofes contra a humanidade. Em nome de D'us se fez o que "D'us" mandou fazer.
Daí, etiquetar o mundo com o mundo de D'us tornou-se uma tarefa cada vez mais urgente. Se há muçulmanos em Jerusalém, cruzadas neles! Se há alquimistas trabalhando nos corpos em putrefação, fogueira neles! Se há camponeses reclamando por seus direitos, espada neles!
Há uma visão ética antinomista (onde não há norma), onde se deve transcender à norma universal porque assim o "meu D'us quis".
Quando penso nisso, penso em Kierkgaard. Trabalha isso muito bem no livro Temor e Tremor. É onde o individual religioso está sobre o universal (se há) ético. Transcende o ético. Daí, pouco importa o que é ou quem é o outro, de onde veio, para onde vai, o que pensa sobre si mesmo e suas capacidades intrínsecas de amar ou odiar. O que é pior: um assassino pode ser transformado num cavalheiro da fé (lembra aí do Abraão, do Jefté).
Há esses eventos que o cristianismo alimenta e protege, mas há muitos outros ismos que louvam seus "heróis da fé". Mas não são. São os assassinos. Derramaram sangue por causa de D'us. Isso ainda ocorre. Com muita frequência. Há os que dirão: "é a justiça de D'us". É... Nem sabemos da metade dessa missa. Tem muito sangue inocente que ainda grita por essa terra.
E tudo isso em nome da religião, do mundo que o religioso preza em fazer conhecido. É o sagrado contra o profano; é o reino dos céus contra o império das trevas. Desde que a Idade Média resolveu reassumir as rédeas da divisão desses mundos (ou âmbitos), o conjunto da realidade permaneceu dividido em duas partes. Na alta escolástica, o reino natural se subordina ao reino da graça; no pseudoluteranismo, é proclama a autonomia legal da ordem deste mundo em relação à lei de Cristo; e no pietismo, a comunidade dos eleitos atua em oposição ao mundo para lutar pelo crescimento do reino de D'us na terra.
Se o reino (mundo) de D'us precisa ser estabelecido assim, não sei, tenho minhas dúvidas, mas a gente não chega até a Copa do Mundo.
NA GRAÇA
LELLIS
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