Com
o advento da internet e das redes de relacionamento, não se pode afirmar “tenho
amigos”, mas sim, “tenho contatos”. Um jovem bem entusiasmado disse ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman:
“Fiz 500 amigos num só dia no facebook”. Ele respondeu: “Que ótimo, ao longo dos meus 80 anos de vida não consegui nem a metade de amigos que
mencionou”.
De
certo que a construção das boas e velhas amizades estão passando por um momento de mutação. Não
sei onde isso vai dar, mas o vazio no ser humano é cada vez maior. E a falta de boas amizades auxilia nesta tão complicada subtração do senso humano.
Muitas comunidades religiosas, enquanto pregam um social engessado, brincadeiras regradas, vão
produzindo seres altamente superficiais. Os relacionamentos se baseiam em: “olhe,
estou aqui para que não caia”; “Fique firme, estou por perto para continuar a
jornada”. Mas essa proximidade não é nada além do que uma promessa distante de oração.
Oração
boa é aquela que se conversa com o outro diante de uma boa mesa. A gente chama
a gargalhada, convida as conversas de pescador e as histórias de outrora para que se sentem à mesa. Lentamente, as cantigas no
violão vão surgindo... a gente vai, desafinado, mas com gosto bom na boca de que algo nos
vai muito bem, muito bem afinado. Afinados com a vida, com o coração, com a
alma. Nos damos por satisfeitos ao final de mais um dia.
Inúmeras
pessoas passam por nós, convivemos com o chefe, com o subordinado, com o padre,
com o pastor, com o coroinha, com a mãe, com o pai... mas todos passam
ligeiramente como o tempo que nos gasta e nada mais gesta de bons e íntimos
afetos.
Há
solidão numa igreja de 500 membros. Há solidão numa casa com 10 filhos. Há solidão
num ser que crê. Há solidão num céu que perde a amizade da reconciliação. Há,
sim... se há!
Não
sei o antídoto contra os faltos de amigos íntimos. Isso não se produz, como se
produzem nos pátios frios das religiões. Acho que isso acontece no tempo, fora
das redes sociais, das missas e dos cultos. Os bons amigos a gente percebe no
culto da vida, na assistência quando a desgraça chega, no sorriso quando um bom
recomeço dá as caras, num telefonema dizendo “Tô aqui em baixo, abre esse troço
que eu quero entrar”.
Um
bom amigo acontece, ele cruza o caminho da gente como que um raio cortando uma
árvore. Fica ali, a marca. Abriu a árvore ao meio. Caiu. Caiu mesmo.
O raio não ergue a árvore, antes, desaparece após um contato violento. Agora, são uma marca. Está lá, pra sempre.
NA
GRAÇA
LELLIS
2 comentários
Eu entendi totalmente seu texto (dessa vez, hehe).
Mas também acho ser possível que boas amizades nasçam da internet.
Até! ^^
É Mariah, mas a questão é que muitos amigos da net continuam amigos da net. Amigos dos caracteres. Não há cheiro de gente. Ele mora há um km da sua casa, mas não há nenhum afeto, nenhum interesse, nenhum encontro para boas reflexões e gargalhadas.
Quanto ao entendimento de meus textos... bem, isso é normal. Nem eu os entendo. Abraço.
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