Geral

Geral

Titulo

Shabat Shalom


Naquele tempo passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer.
E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado.
Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?
Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes?
Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?
Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo.
Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.
Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.
E, partindo dali, chegou à sinagoga deles.
E, estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados?
E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará?
Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados.
Então disse àquele homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e ficou sã como a outra.
E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.
Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanharam-no grandes multidões, e ele curou a todas.

(Mateus 12:1-15)
Jesus não caminha por estradas diferentes. É um homem religioso. É judeu que ora e faz jejum, que lê a Torah e os profetas, que se interessa pelas reuniões nas sinagogas, que viaja desde criança para Jerusalém a fim de frequentar as festas tradicionais. Mas é também um judeu subversivo no conceito de muitos: se assenta com pecadores, conversa com mulheres a sós e com vida moral duvidosa, toca e deixa-se ser tocado por doentes e imundos, não guarda o sábado como a sociedade religiosa de seu tempo, não comunga com os ritos de sacrifício – quando estes comprados no templo–, nem com a sabedoria divorciada da piedade.

Mas não nos enganemos. Ele não cria o cristianismo: Ele vai pela mesma estrada de todos os judeus, mas faz outra leitura. É a leitura que celebra a vida e a vida do outro, não à estrutura, ao engessamento do ser humano até que este, mesmo que doente, se contente com o rumo pra morte que certa profecia o brindou. Jesus é subversivo!

Há os que gostariam de tê-lo em carne nos dias presentes a fim de condenar muitos abusos que se faz em nome da fé em D’us; mas os mesmos que O desejam para os dias de hoje não se preocupam com o que – ou em quê – Jesus poderia lhes incomodar. Uma coisa é certa em meio às tantas tradições sobre o Cristo: sua ótica divina humanizou-se a tal ponto que fez com que os humanos pudessem ver D’us sem morrer.

As leis foram extremamente consideradas pelo povo hebreu. Dignificaram-na. Vindas das mãos de Moisés, as leis eram gravadas em todo canto da casa, amarradas ao corpo, fixadas em pontos específicos nos ajuntamentos das tribos, etc.

E o sábado era descanso. Ah, o Shabat! Ninguém faz nada, nem o bem, nem o mal. Afinal, não fazer nada é um bem que se faz... a si mesmo. O sábado é um dia em que Deus não cria. Descansa. E se não há movimentação celestial, seus servos devem encarar isso como lei. E há dois eventos que ocorrem no sábado citados no texto acima. Primeiro: os discípulos famintos colhem espigas para comer. Os fariseus se inflamam contra o ato e pedem explicações a Jesus. O Mestre os conduz pela história e lança outro olhar. Segundo: não satisfeito, Jesus entra na sinagoga e cura um homem. Depois de fazer com que os fariseus refletissem em suas prioridades e enganos, foge dali. É, a Bíblia  diz que se retira, mas sim, Ele foge.

Esboçarei algumas ideias sobre a segunda história.

A sinagoga naqueles dias era um lugar de refrigério para muitos judeus. Como Jerusalém estava sitiada pelos romanos, um lugar de refúgio e de encontro com D’us deveria ser a recarga para suas emoções e esperanças. E lá, era o espaço que religiosos fariseus não deixavam de frequentar. (É claro que os fariseus dos tempos de Jesus não eram bem os que são citados nas Escrituras. Mas isso nos tomaria tempo.) 

Um homem com a mão ressequida ali, no sábado, era só mais um. Aliás, esse caso das mãos é algo que me interessa conjecturar. Alguém poderia ler a Torah na sinagoga e recontar em como se deu o chamado de Moisés para libertação do povo no Egito.
- "Ele põe uma de suas mãos sob o casaco e faz com que torne leprosa; em seguida, a cura."
Fico imaginando esse homem ouvindo esse tipo de leitura... ... ... ...
Pior, fico agora imaginando certo tipo de interpretação em nossos dias. Um homem doente fica a se questionar:
- “Será que, por não saber fazer esse tipo de mágica, não sou um chamado para libertar ou para a liberdade? Ficarei escravo até quando?”... ... ... ... E fico imaginando...

Talvez fosse pior a leitura do Salmo 137. O versículo 5 diz se eu esquecer de Jerusalém, que minha mão seque! Uma maldição! Fico, então, imaginando aquele homem... Pior, numa hermenêutica pra nossos dias e o sujeito dizendo pra si mesmo:
- “Sou fruto de uma maldição, de um castigo divino. Eu esqueci D'us! O deixei de lado! Eu mereço! Mas preciso perseverar até que a promessa se cumpra. Preciso aumentar minha fé.”... e coisas desse tipo.

Em suma: temos um homem maldito na sinagoga. Ele é audiência, é gente que precisa estar ali. É gente que tem de estar ali. Sem ele, a sinagoga é só um amontoado. Se durante a semana, só há vilipêndio, aos sábados (quando era pra se ver a esperança face a face) era o contentamento da desgraça e "castigo de Deus".

É... a sinagoga precisa ter alguém para ser ajudado, ainda que esse alguém seja o mesmo de sempre. Pense hoje: uma igreja sem plateia e necessitados é o quê?

Enquanto os fariseus desejam engolir Jesus, este deseja “igualar” – ou pelo menos dar as mesmas condições de dignidade ao ser humano. Enquanto os fariseus vivem numa cartilha pronta, Jesus os faz pensar desejando libertar o humano de ótica interna, sem que este deixe de ser um “religioso”, mas agora, um religioso que vê.

Torno a dizer: Jesus percorre a mesma estrada.

O que nos importa é que o sábado seja de paz entre os homens. (Não há nenhuma alusão ao judaísmo aqui.) E para que haja essa paz, não fazer nada ou fazer tudo para si, não é o ideal para se abrir as portas da convivência harmoniosa e curativa. É fazer ao outro. E quem disse isso afirmou ser Senhor sobre o Sábado, sobre Moisés e sobre as Leis.

Sob ameaça, Jesus foge. Foge, não simplesmente por uma resposta pronta ("não é chegada a minha hora"), antes, porque também preza por sua vida. Ama a vida. É digno morrer para o outro, para si... a vida continua sendo bela.

Shalom!
NA GRAÇA
LELLIS

Nenhum comentário

Vídeos

Vídeos
Tecnologia do Blogger.