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Mas quem é o meu próximo? - a parábola do bom samaritano

(Acompanhe Evangelho de Lucas 10:29b-37 - NTLH)

COPEIRO DO REI escreve...

INTRODUÇÃO: AMOR E SALVAÇÃO

Não foram poucas as vezes em que ouvi e ensinei equivocadamente sobre esta parábola, onde muitos teólogos creem ser uma história verídica. Foi equivocado o ensino por simples falta de re-leitura. A re-leitura é deveras importante para o aprofundamento do escopo bíblico. Essa passagem é instrutiva e deleitosa, porém temos aversão aos seus conceitos quando se precisa por em prática.

Lucas narra um diálogo entre um mestre da Lei e Jesus, o mestre popular. O mestre da Lei, versado nos textos mosaicos, questiona Jesus, o mestre do povo, versado no coração humano e também de toda palavra escrita e proferida por Ele mesmo, sobre a salvação eterna. Ora, sendo o mestre da Lei tão conhecedor das Escrituras, é levando para elas com objetivo de encontrar ali resposta para tal questão. “O que as Escrituras Sagradas dizem?”, pergunta Jesus. O mestre responde: “Ame a Deus (...) e ao próximo (...)”. Jesus enfatiza que os mandamentos se resumem no AMOR, porque Deus é amor. Aquele que não ama não conhece a Deus. Aquele que diz que ama a Deus (a quem não vê) e odeia seu irmão (a quem vê) está mentindo. Em suma: ninguém pode ser salvo se antes não ama, porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Aquele que não ama não recebeu o amor do Pai através do Filho que foi entregue. E aquele que não O recebeu, não pode herdar a vida eterna.

A conversa, com todos os versos utilizados acima, são pertinentes a nós, que hoje re-lemos a mesma história de séculos e séculos. Continua valendo para nós: o Reino de Deus é feito de amor. O herdeiro de Deus é aquele que já possui esse amor em Cristo. A medida da perfeição é o amor. O que nos difere dos demais homens é o amor, porque o único Mestre que manda amar os inimigos é o próprio Cristo. O mestre da Lei diz: “olho por olho, dente por dente”.

Não somos salvos por guardarmos a antiga aliança da circuncisão, mas por crermos na Palavra de Deus como Absoluta. Somos salvos pela Graça mediante a fé. E só aquele que, pela fé, abraçou o amor de Deus em Cristo e derramou seu coração no Altar desse mesmo Deus, tem a salvação.

Amar a Deus era muito óbvio para os judeus, mas quando Cristo cita amar ao próximo, o mestre da Lei desejou complicar: “quem é o meu próximo?”. E quando faz essa pergunta (além de se entregar declarando que não conhece a Deus, porque não conhece o próximo), não está simplesmente tentando alguma prova contra Jesus, mas demonstrando interesse por saber a quem servir, ou seja, ele quer selecionar um grupo de pessoas. Isso tudo nos faz recordar que os judeus não se davam com os samaritanos por questões de raça, costumes, política e religião. A separação era tão grande que os samaritanos não quiseram receber Jesus em sua região por estar seguindo para Jerusalém (Lc 9:51-56). Outra cena está em João 4, sobre a mulher samaritana, que questionava o Mestre sobre o lugar da adoração: Gerizim (samaritanos) ou Jerusalém (judeus)?

Você pode ter todo conhecimento, ser um mestre da Lei ou de qualquer outra ciência, ter riquezas e status, ser um poliglota (...), porém, se não tiver amor, sua vida passou em branco diante de Deus. E o que vale é ter Deus como audiência e fazer dessa nossa audiência feliz e satisfeita com o espetáculo da nossa vida.

HÁ O HOMEM QUE PREPARA A VIDA PARA O CULTO, MAS O CULTO NÃO O PREPARA PARA A VIDA

Muitos já ensinaram que o sacerdote e o levita não ajudaram o pobre homem caído, pois se encontravam atrasados para uma reunião. Errado! O texto mostra várias evidências de que saíam de uma reunião, e não, estavam indo para uma. Note: Jerusalém ficava a 800m do nível do mar, Jericó, 400m.

1ª evidência - O verso 30 diz que certo homem estava “descendo” para Jericó;

2ª evidência – O verso 31 diz que o sacerdote estava “descendo pelo mesmo caminho”;

3ª evidência – O verso 32 diz que após o sacerdote, foi o levita quem passou. Isso tem um significado importante. Veremos a seguir.

É extremamente interessante a reunião em que essas duas personagens participam. Eles se prepararam para o culto, mas não permitiram que o culto onde ministraram preparassem seus corações para a caminhada da vida. Ora, um sacerdote deveria preparar-se para tal momento. Ele era o mediador entre Deus e os homens; sacrificava os animais; entrava na presença de Deus; vestia o manto sacerdotal, que era um tremendo luxo. O levita, por sua vez, deveria se preparar para servir no culto. Existiam mestres de canto para o trabalho musical nos cultos. Só existiam pessoas bem preparadas para oferecerem um culto padrão a Deus. Conquanto, pelo menos nesta história, era só isso.

Havia uma intensa preparação para o culto. Prepararam-se de verdade. Ao saírem do culto, na primeira oportunidade de colocarem em prática aquilo que haviam ensinado, ouvido do lado de dentro, passaram de largo.

E agora, por que o levita vem após o sacerdote? Porque eram responsáveis por servir também na limpeza. Ficavam por último. Eles serviam do lado de dentro, mas do lado de fora, passavam de largo. Tanto o sacerdote quanto o levita foram até curiosos para ver a desgraça do outro, mas incapazes de servir o in-servível, de amar o in-amável.

Temos hoje muitos curiosos de desgraças. Aproximam-se tão-somente para detectarem o problema e, em seguida, deixam a bomba explodir. São aqueles que querem estar a par de todas as crises do homem, mas não desejam envolver-se para ajudar, orar, entender a mão. A Bíblia diz: “Se você sabe o que deve fazer e não o faz, está pecando”.

Precisamos deixar que o culto nos prepare para a vida. Jesus disse: “Aquele que me ama obedece aos meus mandamentos”. Jesus não diz: “Aquele que me ama deve cantar, deve fazer boas obras, deve erguer suas mãos, aplaudir...” Tudo isso até possui certo sentido no seu momento, mas o que ama a Jesus OBEDECE.

A vida acontece do lado de fora. O culto do lado de dentro só acontece, só é aceito por Deus, quando há o culto do lado de fora. “Culto sem vida é vida sem culto”. Não importa o quando de sacrifício há no altar, quão linda seja a tua estola sacerdotal, quão excelente seja a música da igreja, mas se não houver o culto, a adoração, o serviço do lado de fora, é coração vazio, mãos vazias, vida fria. Adoração significa SERVIÇO. E não há como servir a Deus diretamente. Você não pode servir a Deus com um copo d’água. Só há uma forma de servir a Deus: servindo as pessoas.

Onde podemos servir as pessoas? Do lado de dentro? Sim. Do lado de fora? Certamente. Onde temos maior oportunidade de servir? Do lado de fora. Queremos servir muito a Deus, sirvamos, pois, em todo tempo e em todo lugar. O culto precisa ser a própria vida. Quando a vida passa a ser um culto é porque concordamos e entendemos que o serviço se dá durante a caminhada e a quem precisa. Não é um serviço selecionado, na cartilha religiosa do meu ser, mas a quem necessita de mim.

A seguir, teremos lições sobre o samaritano que recebeu de Jesus o título de BOM.

“CHEGOU ATÉ ALI”

Nossa vida é uma jornada, uma viagem. O samaritano estava descendo pelo mesmo caminho. Uma viagem. Temos, em nossa concepção de sociedade imediatista, sem paciência e apressada até para comer (preferimos sempre os alimentos que nos darão facilidade e remirão nosso tempo), que parar na caminhada é perda de tempo. O samaritano me ensina justamente o contrário. Os irmãos discípulos Tiago e João paravam, por exemplo, sua pescaria para consertarem as redes (Mc 1:19). Só avançamos quando “CHEGAMOS ATÉ ALI”. Onde é esse “ATÉ ALI”? “ATÉ ALI” é onde seremos úteis, abençoadores, salvadores de vidas, canais de milagres, Corpo de Cristo.

Nossa viagem só progride, só avança quando temos esse “ATÉ ALI”. A viagem precisa ser interrompida para o próximo passo.

“COMPAIXÃO”

Aquele samaritano ficou com muita pena dele. Ele teve o mesmo sentimento de Cristo ao olhar as ovelhas sem pastor. Jesus se compadeceu delas. O samaritano se compadece, adoece, sente dores, por aquele cujos representantes da religião viraram as costas.

A Igreja não pode ser assim. O amor é o distintivo e apanágio da Igreja. O verdadeiro discipulado é procurar se parecer com Deus, e Deus é amor. A compaixão não é uma poesia, mas um sentimento que só os que possuem o Espírito Santo podem ter. Compaixão é noite escura da alma, é se contorcer de piedade por aquele que se encontra em necessidade. Infelizmente, temos a ideia do necessitado da seguinte forma: um mendigo, um faminto, um sem-teto, um alcoólatra. Mas o necessitado pode estar dentro da sua própria casa.

Dentro da sua casa é também o lado de fora do culto. Será que o culto tem preparado você para ter compaixão com os necessitados dentro da sua casa? Talvez seu familiar não esteja ferido no corpo como a personagem desta história, mas esteja ferido na alma com as palavras pronunciadas e algumas atitudes ao longo dos anos. É urgente pensarmos sobre nossa trajetória. Está sendo cheia de compaixão ou vazia de sentimentos honrosos?

“ENTÃO CHEGOU PERTO DELE” – REPUTAÇÃO

Ai de um judeu ou samaritano ou qualquer homem são se aproximar de um pecador, ou leproso ou morto. Alguns estudiosos até dizem que o sacerdote e o levita não puseram as mãos no pobre homem porque não queriam se infectar com um cadáver, não queriam deixar a pureza conquistada num culto tão santo.

Ou nós preferimos a legalidade da religião, sem nos contaminarmos com as pessoas e lendo sobre a roda dos escarnecedores em todo o contexto, ou nos tornamos semelhantes a Jesus, que tocava e deixava ser tocado por pecadores, doentes de toda sorte, e tocava em mortos. Jesus tinha sua reputação em baixa. Agora, é importante diferenciamos reputação de caráter. Reputação é aquilo que as pessoas acham de nós. O caráter é o que Deus vê. Jesus era chamado de comilão e beberrão. Era tido como pecador. Como aquele que tinha pacto com Belzebu. Mas seu caráter se mantinha intacto porque sua audiência era Deus.

Fica aqui um questionamento: vale a pena perder a reputação para salvar vidas? Vale, mas ainda não estamos preparados para isso por causa da própria sociedade evangélica. Ela não permite. Nós não nos permitimos perder o nome para ganhar vidas, perder a privacidade da casa para receber meninos carentes, perder riquezas para investimento em missões... Nós não estamos preparados para perdermos nossa reputação. Temos até riscos e manchas enormes em nosso caráter, mas jamais em nossa reputação.

O samaritano aproximou-se.

“AZEITE E VINHO”

O samaritano estava em viagem. Carregava uma bolsa, uma mochila. Ele estava preparado. Por que o azeite? O azeite de oliva fazia diminuir a dor. Por que o vinho? O vinho desinfetava as feridas. Este homem andava preparado pelo caminho da vida. O sacerdote e o levita havia saído do culto com a bagagem vazia. Pergunto: Você está preparado para o lado de fora? Preparado para ser a resposta para o mundo caído? A Igreja, e tão-somente a Igreja, é a resposta para o mundo. Se não está sendo, o sal parou de salgar e a luz parou de iluminar.

Será que você está carregando fardos pesados ou uma mochila cheia de atitudes para com o caído? Será que você pode ser contado como alguém capaz de diminuir a dor, o sofrimento de alguém? De limpar as feridas para que não cause um perigo maior? De enfaixar, atar o corpo aberto para que não haja hemorragia, perca de sangue (de vida) do caído? Você pode ser contado como um desses?

“COLOCOU-O NO SEU PRÓPRIO ANIMAL”

Isso fala muito comigo. Ele não apenas cuida do homem no caminho, mas continua demonstrando interesse até que ele esteja bem. E para que isso ocorra, o samaritano sai da sua zona de conforto de tal maneira que resolve caminhar, dando seu lugar de conforto para o ferido. Ele prefere o outro, olha para o outro, deixa em melhor condição o outro. Ele não esmaga a cana quebrada nem apaga o pavio que fumega, como fizeram os religiosos judeus.

Tendo o samaritano cuidado daquele homem na estrada já seria o bastante para terminar a história, mas Jesus vai além no conto. Não bastasse parar, de perder sua reputação, gastar do seu material de viagem, agora ter de andar desconfortavelmente enquando um desconhecido toma o lugar sobre seu animal?! Isso sim é ser o bom.

Sair da zona de conforto é o próximo passo para quem deseja ver o outro bem. Jesus traz um Evangelho da atitude. Ele diz que aquele que pede comida, não pode ser atendido por alguém que diga somente “Deus te abençoe”. Mas precisa dar a comida. E assim por diante. É um Evangelho social, que cuida das necessidades, das carências, do homem por completo. Isso só é possível quando tomamos a atitude de sair da zona de conforto. Somos, portanto, confrontados com isso. Vivemos num mundo de sofrimento. Por vezes prefiro me esquecer disso enquanto tenho uma mesa farta e família gozando de saúde. Fomos chamados para sair da zona de conforto e sermos resposta para o mundo.

“QUANDO EU PASSAR POR AQUI NA VOLTA”

Emociona-me este trecho. Ele tira do próprio bolso para cuidar daquele homem ferido. Ele investe naquela vida e o deixa seguro na pensão. O que mais me amolece o coração é pensar na volta desse homem. Já poderia pensar: “Está bom. Você já é um bom samaritano. Não precisa continuar”. Jesus vai além mais uma vez na história. Mas, por que continua? Para ensinar-nos duas coisas finais:

1ª – Precisamos ser homens de palavra: “Eu vou voltar. Eu vou pagar. Eu vou continuar cuidando dele”... A ninguém devais nada, a não ser o AMOR. Deus não quer que devamos a ninguém a não ser o próprio amor.

2ª – Precisamos entender que o amor é reticente: “Eu vou voltar porque tenho uma dívida com esse homem”. Que dívida? De amor.

CONCLUSÃO

Jesus agora quer ouvir a opinião do mestre da Lei: "Quem foi o próximo do assaltado?". Ele nem fala “samaritano”, mas “aquele que o socorreu”. E Jesus termina: “Vá. Tenha atitude de fazer o mesmo. Ame. Seja o próximo. Veja o próximo. Aproxime-se do próximo. Volte-se para o próximo. Perca por causa do próximo. Então saberás que o amor do Pai está em ti e que a vida eterna está sendo levada a sério por ti”.

NA GRAÇA, QUE ME É BOA TODOS OS DIAS

LELLIS

4 comentários

Cleinton disse...

Como diz o "seu jorge", é isso aí...
parabéns pelo texto. há braços...
liberdade, beleza e Graça...

José Corsino Júnior disse...

O resultado de amar o próximo é fazer algo de bom para o próximo, seja devido a alguma necessidade que essa pessoa possa ter ou simplesmente por ela existir.

Gláucio Torres disse...

Meu amigo e irmão, saiba que fui grandemente abençoado com esse estudo. Há muitas coisas que passam desapercebidas por nós, mas DEUS é bom e nunca nos desampara, muitas das vezes utiliza pessoas para nos abençoar, e tenha certeza que fui muito abençoado. Abração meu irmão, minha oração é que DEUS o abençõe cada vez mais em seus ministérios......

NELSON LELLIS - COPEIRO DO REI disse...

Sim, Deus usa homens como suas ferramentas. Ele não usa métodos. Assim como na estrada, Deus permitiu que o samaritano fosse alguém capaz de ser um vaso em Suas mãos.

Obrigado pelos comentários.

Nelson Lellis

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