
INTRODUÇÃO
Houve certo incômodo ao ler o debate no fórum da Sepal. Um ateu questiona aos participantes: "Para que serve Deus na terra?". É claro que, como teólogo e, sobretudo, como cristão, reconheço que Deus é o criador e mantenedor de tudo, inclusive, de cada ser vivente. Inquietou-me não pela pergunta, mas por minha resposta óbvia da soberania de Deus. Prostrar-se diante desse Deus é um gozo eterno para a mente e alma, porque diante de tais questionamentos, posso lançar como resposta as mais simples e profundas afirmações inquestionáveis da Palavra de Deus. Decerto que um ateu não se satisfaria com o que ele mesmo já sabe. Ele sabe da verdade, mas porque não se conforma com a simplicidade absurdamente escandalosa prefere confrontar a si e a todos buscando uma resposta que sacie seu desejo intelectual de conhecer Deus da forma mais difícil: a do convencimento. Como teólogo posso convencer um ateu a entender para que serve Deus na terra, contudo, não posso fazê-lo crer de todo o coração. Apenas o Espírito Santo é capaz de fazer crer no óbvio. E por crer na ação do Espírito, faço minha parte tecendo abaixo "para que serve Deus na terra", contanto com a colaboração de teólogos, missionários, sociólogos e demais pensadores.
PARTE I - por Nelson Lellis
- Deus serve para permitir -
Deus permite que perguntas como essa sejam feitas; que o ateu exista e negue a Sua existência; que a desigualdade exista; que crianças morram de fome por conta da ignorância política e por que não dizer espiritual; que guerras aconteçam atingindo civis; que os bons morram prematuramente; que pestes e doenças vençam as expectativas da ciência enquanto o tempo vai matando o doente (seja ele quem for); que maremotos, terremotos e quaisquer outras manifestações catastróficas surjam repentinamente revelando a fúria da natureza e o poder destrutivo e inesperado; que circunstâncias contrárias avancem como câncer para desestruturar a humanidade; que o nenê chore quando nasça; que um fio de cabelo caia; que uma folha qualquer de uma árvore qualquer da amazônia ou de qualquer outra floresta caia; que a formiga estoque seu alimento; que o sol apareça todas as manhãs, assim como a lua pela noite; que o vento assopre no calor e a chuva regue a horta do seu fulano; porque Deus, acima das dúvidas sadias e dos questionamentos ignorantes (que ignoram o óbvio) é SABEDOR de tudo, digo, completamente. O Deus, cuja sabedoria é loucura para os homens, não é permissivo, mas permite que o homem escolha ou não servir o Senhor que trabalha para os que nele esperam. Na terra, Deus serve para permitir que o homem cumpra o curso de sua vida na dúvida venenosa ou na entrega da verdade estupidamente óbvia de que Deus serve a Graça da salvação de Graça; e Ele ainda permite que aceitemos tudo isso.
PARTE II - por Cleinton Gael
- Deus serve para referenciar -
- Deus serve para referenciar -
Três frases bastante fortes são atribuídas ao grande escritor russo Fiodor Dostoievski; à primeira delas - que também é atribuída a Blaise Pascal e a outros pensadores - poderíamos chamar de uma frase crédula: “Todo ser humano tem dentro de si um vazio que é do tamanho de Deus” (a ideia de preenchimento do indivíduo estaria aqui proclamada).As duas outras sentenças, no entanto, parecem poder receber o rótulo de incrédulas: “Se Deus não existe, tudo é permitido” e “Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus; o homem inventou Deus para poder viver sem se matar”.Baseados nessas sentenças, podemos admitir uma possibilidade de sempre ser positiva a presença de Deus na terra. Ele estaria aqui como um ethos sagrado a mostrar um parâmetro de conduta. Sendo crido, como algo íntimo e pessoal, ou mesmo sendo entendido como “invenção”, Deus seria uma peça fundamental para a refutação da tese hobbesiana de “guerra de todos contra todos”. Deus, ou a ideia dele, seria, portanto, a referência a não deixar que nos matemos uns aos outros; serviria como uma regra de conduta mínima, buscando um caráter respeitador entre os humanos. Deus existe na terra, então, para benefício do próprio ser humano. Os que creem nele como verdade sentida, vivenciada, e como respondedor de orações, nada perdem e usufruem, segundo seus próprios depoimentos, de uma paz que só conhece quem o entende existente. Os que creem apenas numa ideia dele, como parâmetro de respeitabilidade entre os homens e mulheres, nada perdem também, pois conseguem viver num mundo onde ainda se consegue a evitação do “ninguém é de ninguém”. Nesse pensar, ninguém perde com Deus.Os únicos a perder com a ideia de Deus seriam, então, aqueles que zombam dela. Só o indivíduo que refuta tal ideia, mesmo sem refletir nos ganhos dela, sai perdendo. Só aqueles que buscam a refutação simples, para provocar atitudes hostis entre iguais, perdem.A grande questão, portanto, não seria Por que Deus na terra?, mas POR QUE NÃO DEUS NA TERRA? Qual seria o malefício causado pela presença crida ou pela ideia de Deus, baseado nos argumentos acima expostos?É sabido que ideias errôneas na questão hermenêutica foram trazidas à tona por muitos homens e mulheres de pensamentos belicistas. Todavia, é também inspirador saber que uma ideia de Emanuel (Deus conosco), representada na figuração da encarnação do Verbo da vida, um jovem chamado Jesus, traria uma interpretação outra, refutando a lógica belicista de antes e incutindo amor e perdão em cada gesto humano. A partir da hermenêutica do Cristo, Deus seria a nossa referência. Deus serve na terra para referenciar. liberdade, beleza e Graça... (texto também encontrado em http://www.cleintongael.blogspot.com/)
PARTE III - por Júnior Lima
- Deus serve para funcionar -
Diante desta pergunta: "Para que serve Deus na Terra?", estive pensando: Realmente, para que serve Deus na Terra? Esta pergunta ecoa para mim num sentido de funcionabilidade. Parece que a pergunta quer dizer: "Para que Deus funciona na Terra?" Não sei se para o leitor soa com esta tonalidade. Talvez o ateu que tenha feito a pergunta esteja buscando isso, uma resposta para o funcionabilidade de Deus. E qual é? Será que a pergunta da alma de muitos que já professam a Deus como soberano e dono de suas vidas também não seja esta, diante das atrocidades, desigualdades e interesses que estão nos nossos olhos e ouvidos todos os dias? A busca por soluções para os problemas é diária e, quando não encontram, talvez esta pergunta ressoe com muita força dentro de nós, só não temos a coragem de dizer isso, pois o conceito formado no intelecto humano é que quando uma situação foge do poderio ou da autossuficiência humana, aí uma força sobrenatural que se chama DEUS, tem o "dever" de resolver. Ironiacamente, Deus virou um solucionador de problemas e um "respondedor" para todas as perguntas de interesses pessoais.
Quando lemos o livro de Gênesis, percebemos o posicionamento de Deus para com o homem na história. Deus mostrou sua funcionabilidade, mostrou qual é e qual foi o seu papel e interesse. deu um motivo claro que não pode ser negado nem mesmo por um ateu, que foi o relacionamento. Deus mostrou que gostaria de compartilhar da sua criação com o homem dando-o a oportunidade de nomear tudo o que Ele havia feito. Disse ao homem: "Cuide de tudo pra mim". Nas tardes passeava papeando sobre os feitos de Adão como se não soubesse de nada na sua onisciência. Pensar que um Deus poderia se rebaixar para se relacionar com o homem? Somente o verdadeiro Deus.
Para que serve Deus na Terra? Para que o Homem exista e viva, pois o dia que o homem não mais existir, Deus não terá "serventia", porque Ele quis servir ao homem por sua escolha. O dia que o homem morre qual a serventia de Deus para ele? Nenhuma. Deus serve para servir ao homem com os Seus princípios e atributos. O difícil é compreender isso, Ele não precisa servir ao homem, mas Ele quis fazer assim. A funcionabilidade de Deus é estar sempre disposto a amar ao homem com ele é, sem exigir pré-requisito para que seja amado. Pensar que a única matéria que Deus tem o interesse é o homem, é ver que tudo o que Ele criou é para o homem. Sua atenção é perceber o homem como ele foi criado, sem erros, sem pecado, sem dúvidas sobre seu caráter, mesmo no seu estado atual de deformidade da imagem e semelhança Dele. Entender para que serve Deus na Terra é ver que o mundo precisa mais do que nunca, da funcionabilidade do homem no seu habitat sendo imagem e semelhança Dele, do que querer justificar pensamentos sobre Sua existência. Deus não tem uma função como a de um televisor que apertamos e pronto, Ele é relacional, Ele fala, anda, chora, sorri, se entristece, se emociona com o ser humano entendendo-nos sempre como alguém limitado e que Ele quer ser com você, e não somente estar como você. A funcionabilidade está no homem que precisa ser quem ele foi criado para ser, pois Deus não precisa provar nada sobre si mesmo, pois a maior prova já foi dada em amor, de um ser celestial para com um ser mortal.
Júnior Lima (Missionário na Bósnia)
PARTE IV - por Meister Eckhart
- Deus serve para que o ser seja o ser de Deus-
- Deus serve para que o ser seja o ser de Deus-
Podemos tocar com as mãos o platonismo cristão do nosso Mestre, quando indaga se Deus existe. A sua resposta é a seguinte: "O ser é o ser de Deus" (esse est essentia Dei sive Deus; igitur Deum esse, verum aeternum est; igitur Deus est: Quaest. Par.; pág. 14, 1 ss.). Assim como as cousas brancas não são brancas sem a brandira, assim as cousas existentes não existem sem Deus (13, 10). Sem ele o ser seria nada. Ainda uma vez, isto não é panteísmo, mas a aplicação ao mundo existente da idéia da μεθηχιζ. Mas como? De um lado adverte Echardo, apoiado na teoria das Idéias, que as cousas existem em Deus e Deus nelas, só quanto ao seu ser "essencial", i. é, ideal, exemplar. Mas agora ouvimos que também o ser espácio-temporal participa de Deus; pois, quando fala da existência é isso o que pensa. Mas de fato não é assim; mas então de novo faz ele realçar nas cousas o ser essencial, ideal ou propriamente ser e, neste sentido, Deus lhes é imanente. Vê ele o mundo com os olhos de Platão. E quando pensa no ser colocado no espaço e no tempo, como tal, dá-lhe então claramente o nome de criatura, e esta é "mortal".
- breve: outros textos para publicação sobre o tema.
NA GRAÇA, QUE NOS FAZ CRER NO ÓBVIO
LELLIS
9 comentários
Existem pessoas como você que estão tão comprometida com a religião que não se permitem pensar sobre a própria religião. (Deve ser o seu ganha pão).
vou lhe esclarecer:
As pessoas são ensinadas e condicionadas desde tenra idade a seguir uma religião, a acreditar numa doutrina imposta, a seguir certos rituais religiosos (em nome de se estar agradando um Deus), e assim prosseguem sem questionar nada até a morte. São como cordeiros que seguem seu pastor.
A FORÇA DA RELIGIÃO ESTÁ NO MEDO E NA IGNORÂNCIA.
Na época de Moisés havia uma confusão entre higiene e religião.
Para a religião criada por Moisés quase tudo era considerado imundo:
Exemplo:
- tocar em cadáver era coisa imunda.
- mulher menstruada, nem pensar
- ato sexual, ejeculação noturna masculina, e tudo relacionado era considerado imundo.
- animais que tivessem certas características
- peixes e frutos do mar com certas característica, exemplo: com barbatana, etc.
Tais associações foram criadas não por Deus, mas pelo homem, pelos sacerdotes daquela época, inspirado em um modelo de santidade em que o homem deveria se afastar de tudo o que aparentasse impuro.
O mais grave em tudo isto é que esses sacerdotes passaram a atribuir a Deus tais ordenanças, afirmando ao povo que falaram com o Divino e que este lhes tinham dado tais ordens para o povo seguir.
Na época de Moisés a religião considera o sexo como algo impuro.
Veja os textos extraídos das “escrituras sagradas”:
Lev. 15.18 Igualmente quanto à mulher com quem o homem se deitar com sêmen ambos se banharão em água, e serão imundos até a tarde.
Também a própria concepção (nascimento de uma criança) era considerado algo impuro.
leia LEVÍTICO 12
Naquela época em que inexistia a medicina como hoje conhecemos, as pessoas tinham grande preocupação de ficarem doentes e não terem nenhum remédio para tomar e sarar.
Logo eles agregaram na religião de Israel a idéia de se abster de coisas impuras.
Coisas escritas por homens incultos foram atribuídas a Deus no Velho Testamento.
O período menstrual da mulher era considerado um tempo de impureza pela religião (o sacerdote que escreveu o livro de Levítico atribui a Deus a ordenança – veja Lev. 15:
Na época de Moisés, nos dias em que a mulher estava menstruada os seus maridos não dormiam com elas porque isso era considerado impuro para a religião judaica. Detalhe que tal ordem surgiu com Moisés, antes não havia tal orientação. Com certeza nesses dias os homens daquela época dormiam com a concubina, pois era normal que os homens tivessem duas, três ou mais mulheres. O rei Davi teve várias (um harém), a própria bíblia relata que Salomão teve mais de mil mulheres. E nós cristãos somos ensinados a admirar homens como Davi e Salomão.
Quem escreveu as ordenanças descritas no livro de Levítico, para dar maior credibilidade a sua fala disse que foi Deus quem o disse. Observe que todos os capítulos em que o sacerdote quis impor uma ordenança para o povo, sempre afirmava: “Disse Deus a Moisés ou Arão, Assim e assado” ou “Deus me disse assim e assado”. Moisés foi um grande ditador, ele concentrava em suas mãos os poderes legislativo, executivo, judiciário e também o poder religioso da época. Qualquer estudante de direito sabe o quanto é perigoso tanto poder nas mãos de uma só pessoa.
Entretanto se formos analisar bem esses textos veremos que são textos tipicamente humanos, coisa da mente humana. O sacerdote dentro do seu ponto de vista considerava algo como pecaminoso e assim propagava sua idéia ao povo atribuindo a Deus seus pensamentos. Deus jamais diria tanta asneira.
Não se feche em suas impressões pessoais sobre Deus, leia a bíblia e faz uma leitura crítica. Será que alguem iria escrever falando mal do rei Davi. Os sacerdotes judaicos maneraram a pena ao escrever sobre seu rei. No episodio do adultério ele não foi morto, apenas advertido, porque será? se fosse um pobre do povo teria sido apredejado. ainda dizem que Jesus é da raiz de Davi.
Raramente comento textos aqui, mas desta vez terei de fazê-lo.
A razão é simples; o ANÔNIMO que escreveu os dois comentários anteriores a esse foi infeliz em vários aspectos.
Começa com uma acusação grave a uma pessoa que não vive DO ministério, mas PARA o ministério, inclusive retirando todo o seu sustento de um trabalho secular.
Depois, é reducionista ao extremo ao dizer que "a força da religião está no medo e na ignorância". Sou um religioso, não sigo religião por medo e não sou o que se pode chamar de ignorante, pois Deus (sim, foi Deus mesmo) me deu o privilégio de ter três formações acadêmicas e estar concluindo um mestrado em uma delas numa universidade federal. Não sou o único, obviamente; conheço vários (nem um pouco ignorantes) com bênçãos ainda maiores para contar.
Outra coisa que precisa ser levada em consideração é o fato de o ANÔNIMO atribuir a Moisés várias coisas, mas não cita DE QUE MOISÉS FALA, visto que, para vários estudiosos, Moisés é uma construção funcional.
Um outro ponto que considero relevante é o fato de o ANÔNIMO incentivar uma "leitura crítica" mesmo depois de ter falado que "os textos meramente humanos e que várias associações foram feitas por homens e não por Deus". Na verdade, tudo foi feito por homens em se tratando de Bíblia. Os textos são humanos mesmo, ora!
Para os que creem, Deus só aparece com o RUAH, o sopro, a inspiração.
Assim, se o texto não for inspirado, não há leitura crítica que consiga trazer qualquer espiritualidade, mesmo que isso possa ser intelectualmente bem construído, como (pensam que) fazem vários dos ferozes críticos de iniciativas instigantes como a proposta por nelson lellis nesse pequeno e incentivador estudo.
Por último; falar mal de Davi ou de Salomão não é problema. O texto bíblico é claro em elogiar e bater forte em ambos. Para que outra confusão não se estabeleça, porém, é preciso dizer que não o apedrejaram (Davi) porque não se apedrejava homem; só a mulher do adultério sofria tal pena. Agora, difícil mesmo é entender como uma pessoa com adultério e assassinato macabro nas costas consegue se quebrantar e se arrepender tão belamente como aquele que será sempre lembrado por ser "árvore para Jesus".
Eu poderia falar horas e horas sobre esses comentários reducionistas e deveras maldosos, mas não vou fazê-lo mais, pois o início deles já diz tudo, quando o autor ANÔNIMO diz a célebre frase;
"vou lhe esclarecer".
Com um início assim, pode-se esperar algo diferente do que foi escrito?
liberdade, beleza e Graça...
Na idade média (idade das trevas) quando os religiosos se reuniram e decidiram juntar os livros da torá judaica aos livros escritos pelos discipulos de Jesus e o chamaram de Bíblia o livro sagrado de Deus (inspirado por Deus). Um total desastre para humanidade. As autoridades religiosas dominavam o cenário político, igreja e estado eram uma coisa só, o rei era o representante de Deus na terra. Quem fosse contra a orientação da igreja era destinado a morrer na fogueira (inquisição). Isso fez com que a tese de inspiração da Biblia fosse aceita na força, na marra, ninguem podia questionar. aquela idéia foi colocada na cabeça de todos, desde crianças. Esse medo de questionar a Bíblia persite até hoje. As pessoas tem pavor de questionar se os livros são ou não de inspiração divina. Por razões familiares, outros por razões profissionais (são pastores, missionários, diaconos). estão tão comprometidos com a religião que estão presos ao sistema religioso. O medo é inconsciente. desde criança fomos ensinados a não questionar senão Deus vai nos castigar. Muitos passam a vida toda presos a estas idéias, sem jamais questionar. é uma fé cega.
Seguem coisas escritas por velhos sacerdotes judeus, histórias transmitidas oralmente e cujo sentido se perdeu no tempo.
Sugiro que faça um estudo sobre a origem da Bíblia e de como ela foi escrita. Não adianta ficar tentando justificar o injustificável. Há um grande abismo (diferança enorme) entre o Deus do VT com o Deus pregado por Jesus e do NT.
Bem, ANÔNIMO, na ausência do argumento falacioso "ad hominem" (contra a pessoa) já é possível estabelecer um diálogo mais proveitoso.
Existem alguns outros equívocos na sua fala. O rei na Idade Média (que não chamo de "idade das trevas" por conhecer as várias contribuições científicas da época)não representava Deus na terra. Existia um clero fortíssimo.
O rei estava acima, é certo, mas a ideologia do feudalismo sabia respeitar a força da classe sacerdotal, que era muito muito importante para a manutenção do status quo.
Equívoco histórico bem grave é atribuir às contribuições da Idade Média a questão da inspiração do texto bíblico. Esse assunto é de bem antes. É só estudar um pouco e se percebe isso claramente. Vários concílios já haviam discutido a temática.
Quando você diz "as pessoas têm medo de questionar..." é preciso dizer QUAIS PESSOAS. Existe um grupo bem grande que questiona, e, mesmo assim, ainda crê. Faço, juntamente com o Nelson, parte desse grupo; somos por "uma fé que pensa e por uma razão que crê".
Quando a ter medo, sendo ele consciente ou não, essa questão não está vinculada somente a Deus. Eu, por exemplo, morria de medo do "bicho papão" e da "mula sem cabeça". Por outro lado, eu cria no "Papai Noel". Era lindo crer nesse último, e confesso que foi um trauma grande quando da descoberta de sua inexistência.
Ainda assim, ele vai existir para os meus filhos, até que chegue a a eles a idade de perceberem que quem colocava o presente debaixo da cama deles era eu e a mãe deles. Não posso retirar deles a chance de viver uma ilusão tão fantástica, não acha?
O sentido de muitas passagens bíblicas realmente se perderam no tempo. Contudo, é bom que se perceba que NÃO SABEMOS O SENTIDO DE VÁRIAS PASSAGENS DE ROMANCES E LENDAS QUE NOS ENCANTAM, E, MESMO ASSIM, CONTINUAMOS A SER INSPIRADOS E TOCADOS POR ELAS.
Quando à sugestão de estudar a origem da Bíblia, confesso que já o fiz por cinco longos anos de estudos teológicos; deu para aprender um pouco.
Muita coisa precisa ser ainda aprendida e apreendida, mas penso já ser possível tecer algumas ilações e contribuições para bons debates, como o sugerido pelo Nelson nesta busca.
Quanto a haver "um grande abismo" (diferença enorme) entre o Deus do AT e o pregado por Jesus no NT, penso que Jesus apenas "acertou uma interpretação equivocada". A hermenêutica do Cristo nos mostrou fragilidades, é certo. Mas, por favor, não precisamos ficar na superficialidade de "Deus mau" e "Deus bom", pois tais construtos não são antagônicos em termos teológico/filosóficos. EU SOU YHWH; EU FAÇO O BEM E EU FAÇO O MAL, não é assim que o texto diz?
Sei que é duro para muitos ler isso, mas para um teólogo já não assusta tanto.
Por último, quero fazer uma sugestão: faça uma crítica clara e profunda acerca da proposta do Nelson. Isso de ficar falando pejorativamente de outros assuntos (talvez fruto de uma frustração eclesiástica passada)não enriquece o debate. Pense a respeito.
liberdade, beleza e Graça...
Pra que serve Deus na terra?
Retomando o tema...
Para que serve Deus na Terra? Esta questão é um inquietante enigma teológico!
Por um lado, Deus não serve.
Não serve no sentido de que Ele teria uma finalidade, um propósito em existir. Tais características são próprias das coisas ou seres criados, tais como o homem, os anjos, o universo... Quando pensamos em propósito ou finalidade, pressupomos que tal necessidade apareceu ou se fez presente por razões próprias. Isto combate a idéia (conhecimento) bíblico de Deus. Deus é onipresente e criador de tudo. Tudo serve a Deus. Ele é o princípio de todas as coisas. Sem Ele, nada do que foi feito, se fez. Nele tudo subsiste (Cl. 1:16-17).
Deus não veio a ser. Simplesmente, Deus é!
Por outro lado Deus veio a ser!
João diz (1:14): e o logos carne "egéneto" (aor. 2, voz média). Ou seja, o logos “veio a ser para si mesmo” ou “tornou-se a si mesmo” carne. Minha tradução literal deste texto seria: “E a Palavra Viva em carne tornou-se para si mesmo”. Nesta perspectiva temos um propósito, uma missão, uma delegação comandada por uma necessidade que surge em razão própria. Deus é “movido” neste caso. Movido por Si mesmo, em seu amor pelo ser humano criado, decide que homem também deve se tornar a fim de que possa ser julgado por Deus, como homem, e receber, de Deus, o castigo pelo pecado do homem, para que o homem possa ser livre e justificado perante Deus (2 Co 5:21). Por isto, declara Jesus, que ele “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Neste caso, Deus serve ao homem, pois o homem, em seu pecado, não pode servir a Deus a fim de cumprir o propósito maior de sua existência.
Deus serve ao homem para o homem servir para Deus!
Por fim, acrescento as palavras e citações de J. Piper (Desiring God, cap. 1): Deus não é de “segunda mão”. Dele e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas (Rm 11:36). Ele não é servido como se precisasse, pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais (At 17:25). “Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; [...] A minha glória, não a dou a outrem” (Is 48:11). Deus é único, totalmente glorioso e auto-suficiente.
Ele existe para si mesmo. E por isto, somente por isto, existe para nós.
olá, josé carvalho.
gostei muito do seu texto.
acho até que ele merece estar no corpo do debate e não apenas como comentário (não menosprezando os comentários, claro).
é uma visão mais confessional, mas é bíblica e rica. acho que a sensibilidade do nelson o fará apagar o seu texto como comentário e acrescentá-lo como a quinta parte do debate e tentativa de resposta para "Para quê serve Deus na terra?".
abraço grande, cara.
liberdade, beleza e Graça...
Na verdade o tema não deveria ser para que serve Deus na Terra e sim "qual a função de Deus na Terra".
A função de Deus na terra no antigo testamento é muito diferente da função de Deus nos dias atuais. No VT Deus tinha a função de legitimador dos interesses do lideres religiosos, tudo que diziam e faziam atribuiam a Deus.Portanto, é necessário uma reeleitura das escrituras sob pena da humanidade ficar presa a um sistema religioso que mais condena o homem do que o eleva espiritualmente.
é necessário corrigir os erros históricos cometidos pelos escritores antigos, como fez Jesus ao dizer:
"ouviste o que foi dito: olho por olho, dente por dente"
"eu porem vos digo ..."
Jesus tinha essa visão que não foi captada pelos discipulos e seus apóstolos - esses não conseguiram se desprender do judaísmo. Jesus com esses versículos praticamente está a dizer que não foi Deus que ditou a lei mosaica e sim homens que atribuiram tais ordenanças a Deus.
Pense nisso e reflita.
É tempo de recomeçar uma nova inspiração em Deus.
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