
Copeiro do Rei escreve...
Há alguns meses atrás começaria a escrever este editorial com um sentimento de culpa. Começaria chorando, amargurado com meu ministério, sentindo-me fracassado e mirando em minha impotência sacerdotal. Debruçar-me-ia sobre a escrivaninha de meu escritório e com minha depressão casual imigraria ao tempo onde eu nada era: não era servo, não era pregador, não era professor de Escola Bíblica, não era teólogo, não era filho de Deus. Ficaria eu pensando no que seria da Igreja sem mim. Seria uma porta aberta a todos os caídos e sobrecarregados; não seria, em nenhuma hipótese, uma pedra de tropeço com meus paradigmas e forma notória e contraditória de liderar alguém. Talvez eu fosse hoje o ator dos grandes palcos de São Paulo e Rio de Janeiro, ou até mesmo goleiro do Fluminense (meu time de coração). Poderia não estar e ser Igreja pra não ser visto como alguém que não vê o que necessário é ser observado.
Uma lástima sentir tudo isso acima e continuar a caminhada. Pois é, eu continuei. Só não escrevi. Não escrevi porque não tinha interesse em registrar minhas queixas pessoais e sacrificar-me ao máximo até que comessem minhas próprias entranhas. Agora escrevo. Escrevo como um desabafo por ter ou estar compreendendo um pouco mais sobre a Graça escandalosa de Deus.
O motivo da pena torta que mancha por aqui é sobre os adolescentes e jovens que prosperam em deixar o primeiro amor. Outrora, pensava eu que todas as minhas iniqüidades surtiam efeito direto sobre minhas ovelhas. Ou seja, por cada pecado meu, uma conseqüência advinha sobre algum deles ou sobre sua maioria. E sempre foi dorido pensar desta forma. Pais procuravam-me e comovidos negativamente com a rebeldia, pediam-me e ainda pedem ajuda. Familiares exaltam a igreja como um ambiente mágico onde tudo o que de lá sai, sai transformado, como a água que se converteu no vinho.
Ora, creio que isso pode acontecer.
As pessoas veneram os líderes e conselheiros como os que são obrigados a satisfazerem a mágica da transformação de cada rebelde que se levanta dentro ou fora de casa. Para isso, a cobrança dos pais aumentava. Se os pais não dão jeito, os professores e líderes precisam fazer alguma coisa. Até os jovens começaram a cobrar: “Se não tem evento na igreja, a gente tem que ir mesmo pro mundão!”
Ah, que cegueira! Que tristeza! Se bem que naquele tempo meu sentimento era de desespero por querer encontrar algum evento que fosse do agrado deles para tragédia maior não tomar conta de suas vidas e até da minha.
Hoje, vejo o que sempre vi mas nunca havia tomado pra mim mesmo: uma Igreja sadia, cheia de oportunidades de crescimento e de comunhão com Deus onde só não aproveita quem não quer. Hoje, minha mente não vagueia mais pelo desejo do Egito, mas freqüentemente passa por ali só pra observar aqueles que preferiram tornar às panelas de carne que farão com que tenham vida curta, triste e demasiadamente fora do que sempre quiseram.
Minha escolha por pensar assim foi uma bênção. Não consigo mais entender, de fato, como é a visão dos que precisam injetar uma overdose de oba-oba pra ser cristão, pra ser protestante e que proteste contra o pecado. É difícil engolir um pai que culpa a igreja porque o filho não quer obedecer mais. Como dói na gente ouvir jovens, que cresceram descobrindo por si mesmos sobre Deus (dentro da “igreja”), que eles são desprezados só porque receberam uma disciplina ou exortação com amor. Sinceramente? Não sei de onde vem a crise maior. Não sei se os pais precisam tomar posição de pais ou filhos tomarem posição de filhos. Que estes sejam convertidos uns aos outros! Desejaria viver para ver a conversão deles.
Fico eu pensando daqui... que tipo de ser-humano necessita de um evento obalístico na igreja pra não beber ou se drogar ou se prostituir? A ética do ser-humano é muito maior do que isso. Basta ter um pouquinho de consciência pra desmistificar toda situação. Não é comum mesmo entender os outros. É mais fácil pensar que todos giram em torno de nós e os que diferentes são, são feios e de outro planeta. Outrossim, trato do sistema bíblico, de um padrão dado para seres-humanos que desejam crescer e terem identidade na palma da mão de Deus.
É tão simples.
A ética é algo tão assustador quanto a liberdade que se tem hoje. As duas estão interligadas. Não pode existir liberdade sem ética, porque tornar-se-á libertinagem. A onda que se levanta, creio eu, será uma onda difícil de tornar ao mar. E mesmo que retorne em um tempo menor, deixará algumas marcas ao invés de apaga-las. É uma onda que traz sujeira, afogamento...
Nivelar a vida com Deus fica sempre mais difícil quando se cai conhecendo a Palavra. Pra quem não conhece a conversão é bonita. Pra quem já conhece, tudo é muito vagaroso e um tédio. Portanto, a misericórdia de Deus é pra todos. Quando pararmos de alimentar a idéia lógica de Sartre, que o inferno é sempre o outro, conseguiremos aniquilar um tanto da atmosfera que fere e vai ferindo a nós mesmos. Quando entendemos nossa posição de pecadores, quando entendemos nossa situação e paramos de lançar a culpa no outro, a vida não fica isenta de problemas, mas conseguimos entender qual é o nosso lugar e papel dentro da família, da sociedade e de nossa comunidade evangélica.
Amo muito vocês.
NA GRAÇA
LELLIS
Há alguns meses atrás começaria a escrever este editorial com um sentimento de culpa. Começaria chorando, amargurado com meu ministério, sentindo-me fracassado e mirando em minha impotência sacerdotal. Debruçar-me-ia sobre a escrivaninha de meu escritório e com minha depressão casual imigraria ao tempo onde eu nada era: não era servo, não era pregador, não era professor de Escola Bíblica, não era teólogo, não era filho de Deus. Ficaria eu pensando no que seria da Igreja sem mim. Seria uma porta aberta a todos os caídos e sobrecarregados; não seria, em nenhuma hipótese, uma pedra de tropeço com meus paradigmas e forma notória e contraditória de liderar alguém. Talvez eu fosse hoje o ator dos grandes palcos de São Paulo e Rio de Janeiro, ou até mesmo goleiro do Fluminense (meu time de coração). Poderia não estar e ser Igreja pra não ser visto como alguém que não vê o que necessário é ser observado.
Uma lástima sentir tudo isso acima e continuar a caminhada. Pois é, eu continuei. Só não escrevi. Não escrevi porque não tinha interesse em registrar minhas queixas pessoais e sacrificar-me ao máximo até que comessem minhas próprias entranhas. Agora escrevo. Escrevo como um desabafo por ter ou estar compreendendo um pouco mais sobre a Graça escandalosa de Deus.
O motivo da pena torta que mancha por aqui é sobre os adolescentes e jovens que prosperam em deixar o primeiro amor. Outrora, pensava eu que todas as minhas iniqüidades surtiam efeito direto sobre minhas ovelhas. Ou seja, por cada pecado meu, uma conseqüência advinha sobre algum deles ou sobre sua maioria. E sempre foi dorido pensar desta forma. Pais procuravam-me e comovidos negativamente com a rebeldia, pediam-me e ainda pedem ajuda. Familiares exaltam a igreja como um ambiente mágico onde tudo o que de lá sai, sai transformado, como a água que se converteu no vinho.
Ora, creio que isso pode acontecer.
As pessoas veneram os líderes e conselheiros como os que são obrigados a satisfazerem a mágica da transformação de cada rebelde que se levanta dentro ou fora de casa. Para isso, a cobrança dos pais aumentava. Se os pais não dão jeito, os professores e líderes precisam fazer alguma coisa. Até os jovens começaram a cobrar: “Se não tem evento na igreja, a gente tem que ir mesmo pro mundão!”
Ah, que cegueira! Que tristeza! Se bem que naquele tempo meu sentimento era de desespero por querer encontrar algum evento que fosse do agrado deles para tragédia maior não tomar conta de suas vidas e até da minha.
Hoje, vejo o que sempre vi mas nunca havia tomado pra mim mesmo: uma Igreja sadia, cheia de oportunidades de crescimento e de comunhão com Deus onde só não aproveita quem não quer. Hoje, minha mente não vagueia mais pelo desejo do Egito, mas freqüentemente passa por ali só pra observar aqueles que preferiram tornar às panelas de carne que farão com que tenham vida curta, triste e demasiadamente fora do que sempre quiseram.
Minha escolha por pensar assim foi uma bênção. Não consigo mais entender, de fato, como é a visão dos que precisam injetar uma overdose de oba-oba pra ser cristão, pra ser protestante e que proteste contra o pecado. É difícil engolir um pai que culpa a igreja porque o filho não quer obedecer mais. Como dói na gente ouvir jovens, que cresceram descobrindo por si mesmos sobre Deus (dentro da “igreja”), que eles são desprezados só porque receberam uma disciplina ou exortação com amor. Sinceramente? Não sei de onde vem a crise maior. Não sei se os pais precisam tomar posição de pais ou filhos tomarem posição de filhos. Que estes sejam convertidos uns aos outros! Desejaria viver para ver a conversão deles.
Fico eu pensando daqui... que tipo de ser-humano necessita de um evento obalístico na igreja pra não beber ou se drogar ou se prostituir? A ética do ser-humano é muito maior do que isso. Basta ter um pouquinho de consciência pra desmistificar toda situação. Não é comum mesmo entender os outros. É mais fácil pensar que todos giram em torno de nós e os que diferentes são, são feios e de outro planeta. Outrossim, trato do sistema bíblico, de um padrão dado para seres-humanos que desejam crescer e terem identidade na palma da mão de Deus.
É tão simples.
A ética é algo tão assustador quanto a liberdade que se tem hoje. As duas estão interligadas. Não pode existir liberdade sem ética, porque tornar-se-á libertinagem. A onda que se levanta, creio eu, será uma onda difícil de tornar ao mar. E mesmo que retorne em um tempo menor, deixará algumas marcas ao invés de apaga-las. É uma onda que traz sujeira, afogamento...
Nivelar a vida com Deus fica sempre mais difícil quando se cai conhecendo a Palavra. Pra quem não conhece a conversão é bonita. Pra quem já conhece, tudo é muito vagaroso e um tédio. Portanto, a misericórdia de Deus é pra todos. Quando pararmos de alimentar a idéia lógica de Sartre, que o inferno é sempre o outro, conseguiremos aniquilar um tanto da atmosfera que fere e vai ferindo a nós mesmos. Quando entendemos nossa posição de pecadores, quando entendemos nossa situação e paramos de lançar a culpa no outro, a vida não fica isenta de problemas, mas conseguimos entender qual é o nosso lugar e papel dentro da família, da sociedade e de nossa comunidade evangélica.
Amo muito vocês.
NA GRAÇA
LELLIS
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