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O chão duro e a arte que entorpece

Em sala de aula, pedi aos alunos que olhassem atentamente para a letra (abaixo) da canção e dissessem o que viam, levando em consideração as ferramentas que já havíamos considerado na plataforma da Filosofia.
Eles tiraram da sacola Platão... uns citaram a "alegoria da caverna". Viram o homem saindo de sua caverna. Um outro gritou e disse: "é o mito ao contrário!" EUREKA!
Claro que é ao contrário. Alguém que descreve "de cima", mas ao mesmo tempo, "de dentro".
E só percebe as belezas se outras ferramentas além dos olhos de carne forem utilizadas. As sensações, as experiências...
A dureza de lá só é bela porque a poesia rege a vida do povo (aí caberia até a leitura de Detienne sobre A República). Lá é possível ver sentido...
Lembrei-me de um amigo que há anos não tinha contato. Disse-me que não lia Kant nem Nietzsche porque os levava a pisar no chão. E pisar no chão dói. Preferia ficar com a música. Bem, decisão é decisão.
A poesia de que o Paulinho e o Hermínio falavam era o que anestesiava a causticante realidade. Ou seja, aquele que estava envolvido com o objeto, sai de lá e convida a todos a entrarem para ver com os seus olhos, com suas experiências. Um convite à caverna (dele). Fora dela, os olhos condenam a feiura. A poesia ajuda a reger a vida.
A religião é assim. Nietzsche dizia que a religião salva, mas mente. Mas salva. Mas poetiza a vida. Mas dá sentido ao sofrimento. Mas cauteriza desgraças. Não dá pra explicar tanta doçura pra quem está envolvido, mas quem está de fora... sim... mas vai, pisando no chão, sentindo a dor, de quem vê de cima, fora do objeto da paixão, sabendo muito...
Agora, é escolher... saber, sentir a dor da realidade e seguir rasgando tudo o que possa dominar, de certa forma, a consciência, ou permitir-se invadir pela poesia pra ver não só com os olhos as belezas que não podem ser explicadas?
Sei lá Mangueira
(Paulinho da Viola; Hermínio Bello de Carvalho)
Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá, em Mangueira a poesia feito o mar, se alastrou
E a beleza do lugar
Pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá, não sei
Sei lá, não sei
Não sei, se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração
Em Mangueira a poesia
Num sobe e desce constante
Anda descalço ensinando
Um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá, não sei
Sei lá, não sei não
A Mangueira é tão grande, que nem cabe explicação...

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