Morte, me faz um favor?
Quando chegares na vida daqueles que amo
Não diga nada, apenas releve o momento e tome tempo na concretude
Aguarde um pouco mais.
Todavia, quando findar a paciência, discuta comigo
Dá-me respostas, abra seu peito
Tenha, ó morte, um só coração para se compadecer e um olhar pra chorar,
Uma face para dar caminho às lágrimas.
Morte, me faz um favor?
Quando a vida pra ti não fizer mais sentido
Não duvide de que para outros ainda há
Não cuspa no chão, não seja tão arrogante, tão mesquinha, tão dilacerante
Não caçoe, não amargure, não atordoe, não inflame a depressão
Não se esqueça de que há tanta gente com planos.
Morte, me faz um favor?
Quando olhares pro mundo e perceberes que não há nada de vida
Não desacredite totalmente
Não menospreze a desesperança de quem nem sabe o que é o viver
Não chute o pau da barraca, não arregace o ventre frutífero
Não se aproxime tão brutalmente nas estradas.
Morte, me faz um favor?
Que a tua tão ausente misericórdia seja apenas com as criancinhas
E quando chegar minha vez, que seja lenta, até que eu beije na boca a paixão da minha vida
Até que eu abrace – e com todas as forças – meus filhos e sinta o cheiro do pescoço
Até que eu perdoe e que receba o perdão
Até que eu fale o que até agora guardei
Até
que eu grite em gratidão por ao menos ter conhecido Alguém que gerou em
mim esperanças para reencontrar gente que aqui beijo, abraço, falo e
ouço.
NA GRAÇA
LELLIS
Um comentário
É,tão comum e tão desconhecida ainda...bela poesia.Abraço
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