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Jesus nasce em qualquer lugar

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Às vésperas do Natal, pregadores tiram das gavetas aquela antiga mensagem sobre o nascimento de Jesus. São os famosos 3, 4 ou 5 pontos que funcionam bem. O povo gosta de ouvir um bom repeteco: Jesus nasceu de uma virgem e viveu como viveu para morrer pelos pecados da humanidade. Ao terceiro dia ressuscitou e deixou o Espírito Santo, o outro Consolador, para afinar a igreja aos planos do Pai. 

O que me interessa neste discurso não é simplesmente aquela ideia da conversão: "deixe hoje Jesus nascer em sua vida". (Jesus nascer? Ora, isso significa nascer dentro daquele que até hoje viu a vida com seus próprios olhos, dando vazão aos seus caprichos de desejos mais ignóbeis. E quando Jesus nasce as coisas mudam, são transformadas. Mas lembrem-se que a Bíblia diz que é o homem quem deve nascer de novo.) O que me encanta na verdade é o cenário de seu nascimento.
 
Daí, fico eu desenhando a história em minha mente...

José e Maria procuram por um hotel, um lugarzinho onde possam parir o menino Jesus. Nada. O único lugar é um cocho. Lá vão eles. Os animais são colocados para fora, alguns ficam por ali mesmo, porém, um pouco só afastados. A luz é tênue, o cheiro não é o dos melhores, o espaço é apertado, o chão está sujo, e o som de animais se acomodando para dormir os toma como trilha sonora até o romper dos gemidos de Maria. Então, esta começa a transpirar e seu marido segura em suas mãos, vez em quando seca o suor que desliza suave pelo rosto de sua amada.

José é cuidadoso. Junta para sua esposa um punhado de pano rasgado e coloca sob suas costas para que pudesse encostar numa parede improvisada com caixotes de madeira. Ainda, pega um pouco de cereal que estava separado em vários sacos, e coloca dois para acomodar melhor suas pernas já em posição de apresentar Jesus ao mundo. Com zelo, arrasta o saco de cereal e deixa Maria ajudar para melhor sustentar seus joelhos. 

Lá estão os dois apaixonados. Numa estrebaria para parir o primogênito. Ele nasce aos berros. Um ou outro animal é acordado. Maria está exaurida. José é quem pega primeiro, lógico. Sorri como quem vê a si mesmo. É a sua cara. Até nisso o "Espírito Santo foi cuidadoso"... 

Após beijá-lo na face, entrega no colo de Maria que lhe fala ao ouvido palavras que os anjos não puderam interpretar. Ela lhe oferece um doce sorriso. Ambos sugerem rápida limpeza e, após isso, Jesus se esbalda nos seios de sua mãe. É Deus em carne mamando. É Deus em carne experimentando o leite materno. É Deus em Jesus sugando com sua minúscula boca aquela a quem um dia diria: "que tenho eu contigo, mulher?", dentre outras coisas.

Chama-me atenção este cenário. Um cenário promovido por ambos. Por mim, na "realidade". Não era simplesmente uma estrebaria. Era um lugar feito por eles mesmos. Um lugar de animais, sujo, sem iluminação, sem comodidade, mas que gerou vida.

Não sabemos como aconteceu aquele momento. Podemos ilustrar e melhorar bem o ambiente, mas a única certeza que teremos é que Jesus nascera naquele nada nobre lugar. Aliás, Jesus nasceria em qualquer lugar.

NA GRAÇA
LELLIS

3 comentários

Jabesmar A. Guimarães disse...

Texto edificante meu amado irmão.
As vezes é preciso "desromantizar" algumas tradições e tentar prover aos leitores uma ideia mais próxima do que de fato se deu em algumas situações descritas na Bíblia.

Mariáh disse...

Nossa, Nelsinho.
Foi um dos melhores textos seus que já li. Deu pra imaginar direitinho... E é bom pensar nessas coisas. É bom ver o Natal de um jeito "não-convencional".

Fique com Deus!

NELSON LELLIS disse...

Pois é, meus amigos. Acho que há muito o que contar sobre o que já fora contado...

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