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Tolerância Religiosa: Minha Teologia dirá como vejo o outro



A tolerância religiosa é cada vez menos praticada. Os cristãos que possuem plena convicção de sua linha pedagógico-teológica, encurtam o espaço daqueles que interpretam a vida de forma diferente. Sim, a vida. Porque dependendo de como se coloca a crença no viver, todo o viver poderá depender da crença. E essa forma tem gerado violência. Uma violência capaz de fomentar mal estar na sociedade multifacetada.

A expressão "não por força nem por violência" já foi convertida para "não importa o que o outro pense se estou pleno de convicção sobre isso, porque se sigo a verdade, doe a quem doer, seguirei até o fim".

Não sei se o caminho a percorrer deva ser "verdade: engula do jeito que der". Se é pelo Espírito, a força não combina; se é pelo Espírito, a violência não deveria ter sua participação. Pelo Espírito deveria ser espaço aberto para a ação de todas as vias de pensamento. Se é pelo Espírito, é o Espírito quem fará o que deve ser feito. Se é pelo Espírito, não se pode argumentar na força doutrinária, porque o Espírito é livre e sopra onde quer. Não há razão no "espiritual", não há razão que se possa detectar antecipadamente e declará-lo: está ali ou acolá, agirá assim ou não agirá.

Por isso, teologias são importantes para o diálogo com a própria vida. Não se pode trancafiar a Deus na religião que se estabelece a fé – que é inerente ao subjetivismo. Deus é maior que tudo isso. Deus é maior que a fé, que a comunidade, que os espaços de argumentação. E quando digo que Deus é (...) não tenho a mínima pretensão em dizer o que Deus é, pois não o conheço em sua plenitude. Não sei como age e como trabalha. Sei que age e trabalha. Como, não sei.

É por isso que sinto a importância de uma maior tolerância religiosa. Ninguém pode dizer aonde o Espírito sopra.

Sei que é um desafio libertar-se de Deus, o Deus que fora criado e projetado por mim mesmo. Mas quando somos libertos desse “Deus”, entendemos que o vento sopra onde quer, e, o nível de tolerância para com o outro, ganha força pra voar como um papagaio no céu. Bem lá no céu. Lá... no céu.

NA GRAÇA
LELLIS

6 comentários

Ester disse...

Tenho aprendido muito com meu pretinho e com você, afinal acompanhei de perto o desenvolvimento de vocês e sabe? Voltar atrás não dá mais, mas como você, estarei fazendo "diferente" daqui para frente...obrigada por dividir conosco essa "alimentação" tão saudável!

MSS disse...

Nelson,
entendo que não há qualquer discrepância entre se crer NA VERDADE, como algo absoluto e ser guiado pelo Espírito.
Aliás, Jesus prometeu que "o Espírito Santo (O Espírito da verdade) nos guia a toda a verdade" (João 16:13).
Não vejo porque defender a verdade seja uma violência. Se isso é voltar atrás e reconstruir a sua "mesa teológica", talvez seja preferível ficar com a velha mesa da convicção nas verdades imutáveis do Evangelho.
Será que depois de 20 séculos de História só agora alguns "iluminados" conseguiram revelar que precisamos de "tolerância"? As verdades absolutas não fazem mais sentido por que? Elas nos incomodam?

NELSON LELLIS disse...

Prezado irmão Marcos,

Talvez, teria sido interessante colocar “os cristãos” entre aspas, até porque, sou um cristão e creio haver inúmeras linhas e percepções acerca do cristianismo (e isso desde o seu princípio). Sinto também que não tenho me feito entender pra você, pois ao abordar o assunto da tolerância, não pretendo defender a ideia que se deve abrir mão das convicções Bíblicas (e porque creio nela) nem dos argumentos teológicos que foram ali trabalhados. Quando falo de tolerância, falo de amor ao diferente e aos oprimidos (também aos opressores), o que a Bíblia, sobretudo nas palavras de Jesus, é veemente. O cristão tem ainda um saldo devedor: amar aos outros como Deus amou a humanidade em Cristo - e Deus nos amou sendo nós ainda pecadores e inimigos seus.

Quando eu disse que deveria repensar minha teologia, foi na perspectiva de retirar a iludida mentalidade de "ser divino", ou seja, de colocar-me numa posição de salvador e/ou condenador da humanidade por simplesmente ser Igreja. Não tenho esse direito e nem esse poder. Minha missão, como membro desse Corpo, é amar, independentemente se o que está à minha frente comunga da mesma fé. Se a ideia é amar o inimigo, caminhar mais uma milha, portanto, o que se deveria viver em nossos tempos tão confusos e cheios de guerras religiosas é a tolerância.

Digo isso ainda porque os 20 séculos que se passaram (como o irmão citou), “os cristãos” (agora entre aspas) derramaram muito sangue em nome de Deus. Isso aconteceu tanto no catolicismo como no protestantismo. Inegável. Por vezes, cristãos matando cristãos.

De fato, os cristãos têm sofrido torturas e muitos são executados por sua fé, todavia, não podemos olhar para a História e contemplarmos as mãos de "cristãos" limpas, porque a ordem que entendiam "dos céus" era eliminar os “hereges”. Ora, veja quanta violência!

A "verdade absoluta" (entre aspas) também regia a mão de cristãos àquela época. Pra mim (para nós, não é mesmo?), verdade absoluta está nos lábios de Jesus (e não da tradição religiosa cristão), que morreu comunicando-a com sua vida; que se deu aos injustiçados e oprimidos; que não reduziu o Reino a palavras - até porque o Verbo se fez carne a tabernaculou (habitou) entre nós cheio de graça e verdade.

Como bem sabe, os maiores entraves de Jesus era com os religiosos de sua época. Com os pecadores, era longânimo, atencioso. Diante do sinédrio, e das tantas outras vertentes judaicas, sua reputação não era lá essas coisas por causa de sua “tolerância” (quiçá heresia para os religiosos), pois era conhecido como beberrão, comilão, amigo de pecadores, alguém que mantinha pacto com Belzebu, que tocava e deixava-se ser tocado por leprosos, por mulheres, por gente “imunda”.

Particularmente, irmão Marcos, voltar à velha mesa, é referir a um estado de opressão. Eu não quero isso. É algo subjetivo. Se quisermos espiritualizar a coisa, basta dizer que voltar à velha mesa é tornar as Escrituras. É claro que sim. Fica bonito e expressa um outro lado da cristandade. Mas ao dizer que devo fazer uma releitura dessa teologia, aponto para uma tentativa de construir (ou deixar ser construído por Deus) em mim a boa tolerância, para que ao fim eu não venha repetir a História “cristã” de tantos horrores e de inúmeras condenações à forca e à fogueira.

Beijo grande.
Lellis

Marcos Senghi Soares disse...

Querido mano Lellis,
acho que você acredita que não estou propondo nem concordando com o fogo da Inquisição. Nem convém misturar a argumentação, porque estou falando de coisas bem diferentes.

Quando se propõe "tolerância religiosa" o que se tem em mente (e, caso esteja errado, me aponte onde - para mim é isso que você quer dizer, especialmente na sua resposta) é que a gente deva aceitar, respeitar e até caminhar junto, se possível, com aqueles que defendem uma doutrina qualquer.

E aí sou quem usa seu argumento: pode parecer muito bonito, muito "cristão", muito moderno falar em conciliação com essa gente, citando (fora de contexto) a ordem de amar os inimigos para justificar tal atitude.

Os apóstolos (assim como eu) nunca disseram que deveríamos queimar na fogueira ou declarar guerra santa contra os que falsos ensinadores. Por outro lado, eles nunca sentaram para "ouvir com tolerância" o que eles tinham a dizer. Eles foram refutados sumariamente, Veja o que João, o apóstolo do amor, falou sobre isso em sua segunda carta, verso 7 a 11, só para citar um exemplo.

"Amá-los" não quer dizer estabelecer diálogo. O que os apóstolos fizeram, desde o seu tempo, em relação às falsas doutrinas, foi COMBATÊ-LAS, a elas e seus ensinadores.

Como eu havia lhe dito em particular, "não há diálogo possível entre a Bíblia e a teologia liberal, esta que nega a autoridade das Escrituras, tornando-a uma mera peça de cultura. Os que apresentam um "outro evangelho" devem ser considerados, segundo Gálatas 1:8, como "anátema" e não "tolerados".

Não respeito mesmo quem traz consigo outra doutrina, porque isto seria afrontar a tradição apostólica. Não quero diálogo nenhum com eles. Quero distância. Foi isso que os apóstolos mandaram fazer com os falsos mestres. Os alertas de Paulo em I Timóteo 1:3-7, 4:1-5, II Timóteo 4:1-5, por exemplo, não dão base para sentarmos para discutir com eles a nossa fé.

Isso pode soar radical e certamente não agrada aos liberais e pós-modernos ouvidos acadêmicos.

Mas prefiro ficar com a convicção que transforma do que com o questionamento que aprisiona.

Ademais, você não me respondeu: por que as verdades absolutas da Palavra de Deus deveriam ser questionadas?

Abraço
Marcos

Cleinton disse...

UMA VEZ O DALAI LAMA ESTEVE NO BRASIL PARA DAR UMA PALESTRA. O TEÓLOGO LEONARDO BOFF FOI O COORDENADOR DA MESA E FEZ UMA PERGUNTA "DE ARRANCAR OS CABELOS". PERGUNTOU, COMO QUE QUERENDO "PROVOCAR" MESMO, OU TALVEZ ESPERANDO OUVIR "BUDISMO": "NA OPINIÃO DO SENHOR, QUAL A RELIGIÃO CERTA?". DALAI LAMA OLHOU NOS OLHOS DE LEONARDO BOFF E RESPONDEU, COM A CALMA QUE SEMPRE LHE FOI INERENTE: "A RELIGIÃO CERTA É AQUELA QUE TE FAZ SER MELHOR".
Sinceramente falando, acho que a maioria das religiões do mundo tem feito com que as pessoas sejam PIORES.

NELSON LELLIS disse...

Marcos, tolerar, como eu já disse, não significa aceitar. Ponto.

Entendo sua colocação quanto à Bíblia e em nenhum momento escrevi sobre questionar às suas verdades, e sim, questionar quando alguém intolerante age de forma violenta contra outrem em nome da "verdade bíblica" (note as aspas). Ponto.

Uma outra questão: como amar à distância, sem estabelecer diálogo com quem pensa diferente de mim? Como se faz missões assim? A gente simplesmente desiste? Chama o outro de maldito, vira as costas e suspira tranquilo pensando "mais um pro inferno"? Ora, os MANDAMENTOS se resumem no AMOR. O amor é aquele que persevera, que luta, que não se alegra com a maldade, mas está ali, pronto pra esticar a mão quando necessário. Ponto.

Leio o Evangelho pra hoje. Entendo isso quando Paulo diz que nossa mente deve se renovar e não se conformar com o mundo. Conformismo é uma coisa, tolerância é outra. E quando se fala de mundo, se fala de sistemas de pensamento e não do ser pensante. Visto que o nosso inimigo é outro, certo? Ponto.

Sei que os termos teológicos (porque são teológicos e não puramente doutrinários, como prefere tratar) possuem pontos em comum, bem como não teremos nenhum "poder" para admitir e aceitar plenamente as ideias do outro. Normalissíssimo. A vida é assim. Todavia, a Bíblia nos une, o amor às pessoas nos une, Jesus nos une. Ponto.

Amplexos.
Lellis

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