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O céu é para os "covardes"?

É sabido que o apocalíptico texto das Escrituras, diz que o covarde não herdará o Reino dos Céus. (Não sei, mas a gente precisa re-ler a passagem)

Pois bem, conversava eu com um amigo. Ele deixara de ser um simples mortal e se transformara num ser de constantes crises existenciais. Os estudos estavam consumindo sua fé, suas certezas. Até que chegou à seguinte conclusão: “tudo o que vejo, leio e sinto, levam-me para longe de Deus. Preciso parar com tudo isso!”

E parou. Mas as dúvidas fazem parte de cada célula.

(Só pra lembrar... eu não parei.)

Sua vida agora gira em torno de tentativas. Tentativas frustradas de crer como outrora. Deseja crer, ainda que não consiga. Carrega um fardo enorme: os pensamentos sobre a morte e seu destino. É por isso que diz crer, mesmo não crendo. Porque é melhor apostar em crer e ir para o céu do que assumir com toda a convicção de que não haverá absolutamente nada. Sente-se um covarde por não poder declarar sua falta de fé, por medo do inferno. Segundo ele mesmo, trata-se de um covarde; diz ter fé, porque quer ir para o céu. É uma aposta. (Quem aqui se lembrou de Pascal levante a mão!)

Fico a imaginar quantos sucumbem no momento de colocarem à mesa suas realidades e sua(s) fé(s). Talvez o problema hoje não seja perder a fé, mas a vida. Tudo bem, você me exortará que o justo vive por fé. Mas engula sem água o fato de que há os que perdem tudo porque não logram êxito em equilibrar uma persona cristã de fé e uma persona simples e mortal. Sim, porque bem me parece que persona cristã e simplesmente persona nunca estiveram unidas num só corpo. Ser gente e cristão ao mesmo tempo está fora de cogitação. A ideia é ser um ET, um tão somente homem-espiritual na esfera terrena da vida.

Digo isso porque conheço muitas crises e muitas apostas. Vivenciei algumas dificuldades e ainda compartilho de muitas ideias doridas quanto a uma fé teologal. Contudo, quantos poderiam assumir que estão neste jogo por covardia, por aposta? E quando digo covardia, digo covardia contra si mesmo. Porque não aprendeu a confessar, e esconde suas pechas, e não dialoga com amigos. É um religioso, mas um religioso complexado porque a cartilha denominacional não lhe alimenta mais. A ética já não lhe responde. O D'us cuja comunidade devota tornou-se, no campo sagrado, um amuleto e objeto de contemplação. Ele queria mais. Um humanismo, quem sabe? Ver D'us no outro. Na linguagem de Erich Fromm: onde a humanidade é digna de devoção religiosa, i.e., onde se pode concretizar o amor que tem por D'us. 

Ele quer mais. Todavia, mostra-se um "covarde".

Deixo claro aqui que não tenho medo do inferno (a não ser os infernos que a própria vida nos oferece - basta cada dia o seu próprio mal). Não tenho nenhum sentimento pelo céu (a não ser os bons momentos com a família, amigos e outros eventos da vida). Não mesmo. Minha esperança, e isso é algo subjetivo – quiçá completamente místico – está numa só pessoa e ensino: de Jesus. E quanto a isso me calo, fico em silêncio. É algo meu e não tenho nenhuma condição de compartilhar o encontro a fim de que o que preferiu não crer, creia como eu. Posso apenas ouvir, atentamente, seus lamentos, oferecer-lhe o ombro e uma frase pronta: "que é isso?, não, você não é um convarde". Ou ser um pouco mais honesto, olhar nos seus olhos e balbuciar: "Sim, nós somos um bando de covardes, pois se somos capazes de a nós fazer mal, a ponto de pensar que D'us estupra corações fazendo-os crer, veja só o que o outro penará em nossas mãos".

NA GRAÇA
LELLIS

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