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Eu quero uma santidade vazada


Conheço a famosa cruz vazada. Ela está à frente de algumas igrejas, principalmente as presbiterianas. O enfoque é no Cristo ressurreto. Ele não permaneceu morto. Ele não está lá. Ao olharmos a cruz vazada temos essa sensação da vitória da ressurreição e a esperança eternal.

A cruz vazada é um símbolo olvidado por muitos.

Mas o que eu quero é uma santidade vazada.

É uma santidade que passa pela dor, pela humilhação, pelas intempéries e sabe que é possível sobreviver. Temos uma santidade muito exposta e que tenta superar todos os sangramentos possíveis. É uma santidade que tenta manter-se viva na cruz. Quer deixar à mostra certa força – quando já não a tem. É uma santidade que já não dissipa as trevas, que não se defende, que não age. Só esperneia.

Onde quero chegar?

Temos muitos religiosos tentando exercer seu cristianismo, mas ainda não aprenderam que deixar-se morrer é importante. Essa expressão deixar-se morrer é o mesmo que assumir a humanidade, as limitações (...) e ser humilde para gritar: “nas tuas mãos entrego meu espírito”.

Não dá pra segurar o espírito dessa santidade na cruz pra sempre. Precisa entregá-lo. Precisa dizer que dói. Precisa assumir uma santidade humana. Altamente humana.

Temos inúmeros líderes adoecidos porque se sentem constrangidos com suas dúvidas, suas crises particulares. Têm medo só de pensar no que o outro poderá julgar. O pior é que a fé de quem se apressa em ser sincero sempre estará em risco. O meio religioso é cruel para com os “pecadores redimidos”. Preferem uma fé que sangra, que fica lá... bufando, recebendo as tantas palavras duras.

Mas, não. A gente quer manter a imagem. A santidade pregada lá. Já apodreceu, mas ela precisa ficar lá. Já lhe quebraram as pernas, mas precisa ficar lá.

Meu conselho é: deixa-se morrer. Assuma a humanidade. Assuma que viver dói. Assuma que o “cristianismo” não resolve o problema dos problemas, mas que dá sentido no meio disso tudo – e isso, por vezes, não basta. Assuma que deseja uma santidade vazada. Uma santidade cuja presença não esteja mais lá; não está porque morreu, deixou-se morrer. Deixou-se morrer para viver. Viver livre de um sistema de personificação do erro, ainda que experimentando algumas dores, mas sempre dizendo: “Assumo. Morri. Entreguei o espírito a Deus.” Talvez você fique mais belo, assim como a cruz vazada; talvez alguém olhe e não enxergue mais nada, a não ser um alguém que aprendeu a lidar com o sofrer, que passou pela morte e entregou-se para viver. Viver sem medo de deixar de fantasiar ou forçar a barra de uma santidade frágil, à míngua. Porque será muito pior uma santidade que morre porque não conseguiu mais resistir e por lá ficou, sozinha, sem frutos... esquecida.


O que muitos desejam é mantes pendurado um homem ou mulher na condição de mártir da fé. O que proponho é ser sincero e corajoso para admitir a humanidade, bem como essa roupagem da santidade. 

NA GRAÇA
LELLIS

Um comentário

Mariáh disse...

Nossa. Desse eu gostei. Mesmo.

Eu achava que trataria de outro assunto quando li o título, mas vi que foi por outro caminho, e eu amo ser surpreendida quanto à isso. hehe

É até mais fácil pra nós admitir nossa 'humanidade' quando nossos defeitos já são fáceis de ser vistos. rs

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