Um sonho de liberdade: "faça aos outros o que desejas que te façam"

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. (Mateus 7:12)

 

Há um bom tempo, por recomendações médicas, não assistia a programas evangélicos na tv. Mas hoje resolvi desobedecer. Liguei a tv ao chegar de uma deliciosa aula sobre o Eclesiastes com alguns jovens e deparei-me com o programa - até então novo pra mim - "Fala, Fulano" (acho que não precisa colocar o nome, né?). Eu sabia! Eu sabia que não seria bom pra minha saúde. Resisti. Almocei. Retornei. Assisti. Minha esposa passava pela sala e dizia: "meu Deus do céu!" Era a oração dela. 

O programa é interessante. O Fulano fica ao centro. Outros 4 evangélicos, dentre eles pastores e políticos, debatem assuntos diversos. O "Fala Fulano" me parece uma tentativa de ser a "voz da igreja" sobre os assuntos polêmicos da nação, como leis que são aprovadas que acabam ferindo o brio evangelical. Eles babavam sobre a bancada. Raiva contra os políticos que votaram à favor de bebida alcoólica nos estádios na Copa de 14. Segundo o próprio âncora do programa, a ameaça está feita: no próximo domingo, a listagem com todos os nomes dos políticos será lançada no Balcão para que os evangélicos saibam bem e nunca mais votem nos que hoje governam a nação.

Eu disse "governam a nação"? Sim, a nação.

Não quero entrar na discussão sobre bebida alcoólica. Existem leis, como a Lei Seca, do Dep. Hugo Leal, e outras leis (inclusive municipais) como a do Ver. Carlos A. Bezeirra Jr., de São Paulo, que tentam inibir o uso abusivo do álcool ou simplesmente uso - pensando, neste último caso, na venda para adolescentes. A grande maioria de registros de ocorrência policial se dá por causa do abuso desta droga. Creio que há um mal no exagero. Em todo exagero. Exagero no trabalho ou no descanso, no alimento ou no jejum, na religião ou no ateísmo, no cuidado ou no descuido. 

Não vejo senão outra coisa no programa do Fulano: exagero. Podem dizer que há cuidado extremo para com o Evangelho. Direi: exagero. Podem dizer que é preocupação com a população. Direi: exagero. Podem dizer que é exagero de minha parte. Daí, talvez, sentirão o que sinto por quem pensa num só grupo de pessoas.

Quando digo o nome do Fulano, não assumo a responsabilidade de ataque contra a sua pessoa, mas sua postura. Ainda que possam dizer que aquela postura toda é o próprio Fulano e retirando-a, sobra nada. 

Quando sua bancada diz que os políticos evangélicos devem tomar cuidado com o que votam e/ou vetam, me parece que são vigiados com os olhos de Deus e que os direitos e deveres da nação devem sseguir a cartilha dos evangélicos. É por isso que temo um presidente evangélico. Não tenho nenhum interesse num padre governando para seus fiéis. Também não comungo com uma ideia de termos um pastor ou "crente" governando o Brasil. Eu tenho medo. Medo! Não há outro nome: é medo mesmo! Conheço um pouco da História do Brasil sobre o poder da Igreja e o Estado.

A mesma liberdade que desejo para mim, minha família e meus amigos, desejo para os que pensam diferente. Por quê? Muito simples. Basta observarmos a Coreia do Norte (1. lugar no ranking mundial de perseguição aos cristãos), a Eritreia, o Uzbequistão, o Iêmen e tantos outros que maltratam seus "habitantes diferentes". Não! Não quero isso no Brasil. Não tenho nenhum interesse em desvendar o futuro, mas conheço um pouco do potencial que a igreja possui caso um dia os evangélicos tomem o país.

Não quero um país de crentes. Quero um país de liberdades. Ainda que essa liberdade por mim tenha sido alcançada por Jesus, quero dar a liberdade ao outro, como Jesus a deu a quem quisesse ser diferente. Eu sei, eu sei... isso ainda é um sonho de liberdade.

NA GRAÇA

LELLIS