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Morte ou a não existência de Deus?


Em conversa com um amigo, outrora convicto na fé cristã, hoje firmado apenas no campo de uma filosofia abstrata e ciência fundamentalista, dei-me por insatisfeito com alguns argumentos de seu primeiro livro. Embora fictícia, a obra conta a estória de um jovem que tenta, por várias razões - dentre elas um desencantamento afetivo – desenvolver um discurso de que Deus não existe em seu mundo. Todos os esforços da personagem remetem à ideia de que “Deus não acontece”.

Tudo bem, mas me sinto mais confortável com a frase de Nietzsche, “Deus está morto” do que “Deus não pode existir”. Em seu livro, caro amigo, só consegui enxergar um jogo de esconde-esconde por causa de desencantos da vida. Ou seja, já que Deus é o causador de tudo isso, o caminho é a fuga ocupando o mundo com armas próprias.

Quando se declara a morte de Deus, fala-se de uma intervenção do homem na história fazendo com que Deus “perca” sentidos de resposta. A ciência, portanto, inicia seu processo de construção e desconstrução do universo. Onde outrora os mitos e os ritos da Instituição católica respondiam, agora o homem, medida de todas as coisas, passa a oferecer ousadamente – cortando todos os cordões umbilicais – duríssimas respostas que ferem a esfera noológica (todavia, sem a devida força de excluí-la, vez que essa discussão teria de partir para a antropologia, ou até mesmo para a psicologia).

Quando Nietzsche fala da morte de Deus, é na linha traçada pela Modernidade. Deve-se saber que essa morte é relativizada pelos sociólogos Peter Berger e Thomas Luckmamm (mesmo que tacitamente), pois o que se sabe na realidade é diferente de muitos relatos em que a Europa - que sofrera o impacto do desencantamento - havia dizimado de vez a religião. Não eliminou. Os templos de suas cidades estão lá. A religião está lá. Os religiosos também caminham por lá. Obviamente, não como no Ocidente ou Oriente, mas peremptoriamente existentes.

A ubiquidade e poder divino são, nas palavras de meu amigo, totalmente manipuláveis. Acho que é o momento em que concordamos. Consegue-se manipular essa resposta divina. Deus entra quando há permissão humana. E num adendo, concluo que Deus responde quando não possuo mais respostas.

Não sei como será o desfecho de sua obra, mesmo percebendo que aquela ficção seja uma válvula de escape de uma (desejosa) possível aventura biográfica (bem futuramente).

Nesse caso, deixo a reflexão do ponto em comum: Deus pode ser manipulado tanto para dar respostas – Idade Média – como para não mais dar as caras. Neste livro, meu nobre amigo, fica claro que é o homem quem expulsa Deus do Éden. Isso não é novo, mas cabe aqui uma frase de efeito: “Nesse jardim, arriscado é não ter olhos sobre a cabeça”.

NA GRAÇA
LELLIS

Um comentário

NELSON LELLIS disse...

Acabo de receber uma notificação. O protagonista do livro, na verdade, escolhe não haver Deus no "Mundo dos Sonhos". Melhor ainda. Acho que todo mundo dos sonhos não deveria haver esse deus enrijecido pelo dogma e maldade. O que não se pode omitir é que esse mundo dos sonhos, há uma busca, há uma convicção - ainda que não declarada - de que esse Deus seja de acordo com o que nenhuma confissão de fé conseguiu descrever. Ora, se há descrição total de Deus, Ele deixou de sê-lo, certo?
O mundo dos sonhos não é mundo totalmente sem Deus, embora seus enforços pendem a isso; sua caminhada é muito mais de conhecimento e luta contra todos os "demônios" possíveis. Deus aqui se transforma num demônio. E por favor, não digo demônio demônio, mas demônio no sentido de construções outras após a queda da identidade primeira - como Edgar Morin assim o disse em seu livro "Meus Demônios".
Quem sabe aí, caro amigo, o livro não possa terminar com um achado? Ou não! Permanecer em buscas, em fugas... como você e eu temos O buscado, ainda que por caminhos diferentes.
Creio numa só coisa: um dia nos esbarraremos numa esquina dessas pra dizer: "Ele estava aqui e eu não sabia".

Cabe aqui então esse adendo ao artigo. Mesmo assim, valeu a pena a reflexão causada pelo prezado amigo.
Abraços e obrigado.

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