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Teologia do AT - A Fidelidade de Javé


(Resenha do texto do Dr. Júlio P.T. Zabatiero)

A Teologia do Antigo Testamento é centralizada na pessoa de Javé: o Criador, a causa principal, aquele que escolhe. Um dos eixos dessa teologia é o pessoal-relacional, onde as relações estabelecidas ocorrem em contextos sócio-políticos, em situações concretas que, tanto moldam como são moldadas pelas ações e relações pessoais. Deus age diante dessas ações-decisões do homem sem ferir sua onisciência. Ele é imprevisível, mas não arbitrário. Suas ações não são descuidadas.

Há um enfoque sobre a imprevisibilidade fiel de Javé manifesta no quase sacrifício de Isaque (Gn 22:1-19) sob a influência da chamada hiper-modernidade (termo preferido de Giles Lipovestski). Abrão recebeu o chamado de Javé e uma promessa: um filho que se chamaria Isaque. Muitas coisas aconteceram até que a promessa se cumprisse (fidelidade de Deus). Após alguns anos, o Deus fiel e verdadeiro pede em sacrifício o próprio filho de Abraão (imprevisibilidade). Como, se o sacrifício humano não fazia parte do rito cúltico a YHWH e, inclusive, condenado pelo próprio? Agora sim, o autor do texto conjectura sobre o caso da fidelidade juntamente com a imprevisibilidade. Deste modo, não se pode descartar a tipologia - ou apontamento - desta cena para o que aconteceria com o Jesus, chamado Cristo, sendo o nosso substituto na morte de cruz como sacrifício vicário.

Abraão compreendia a fidelidade de Deus (Quando Abraão diz aos seus servos: “nós voltaremos” - Gn 22:5); Sara, por sua vez, não cria na imprevisibilidade de Deus (Gn 22:13). Sören Kierkegaard, em seu livro “Temor e Tremor”, diz que Sara deixou a família e, por isso, rumou para Hebrom após o “pai da fé” ter conduzido Isaque para o monte Moriá (Gn 23:1,2 explica que Abraão não estava mais com Sara. E quando esta morreu, Abraão teve de ir sepultá-la). Abraão confiava na provisão de Deus, mas não sabia como aconteceria (imprevisibilidade).

A fidelidade é um atributo visível (visível porque se trata de um verbo de ação) de que Deus não pode abrir mão, pois caso isso ocorra, Deus deixará de ser Deus. Deus é fiel porque é cumpridor (A palavra cumpridor demonstra ação) de suas promessas; Deus é imprevisível porque para nós, em se tratando do amanhã, tudo é oculto. Na verdade, não sabemos como agiremos e como Deus agirá, mas uma certeza há: “Se formos infiéis, Deus permanece fiel porque não pode negar a si mesmo”. Por vezes, o homem não compreende os segredos de Deus. Mas como disse Blaise Pascal: “Uma religião que não afirma que Deus está oculto não é verdadeira (‘Vere tu es Deus absconditus’- “Na verdade tu és um Deus oculto” )”. Conquanto, esse mistério é revelado em Jesus Cristo e a teologia do AT aponta sempre para Javé. E o estudo dessa teologia, como diz James Houston, faz-nos compreender não apenas Deus, mas a nós (HOUSTON, James. Meu Legado Espiritual).

Tanto em Gn 22:1-19 como em Ez 20:25-26, notamos sobre o Deus fiel e imprevisível. É o Deus das escolhas. O propósito é claro: sua glória. O homem não pode surpreender a Deus. Deus é conhecedor de toda a história kronós porque vive no kairós, o que podemos chamar de “flagrante” (tudo agora). O que nos cabe pensar é na soberania intacta de Javé e na confiança que podemos ter nesse Deus que jamais perde o controle da história. Ele a possui em sua destra fiel e poderosa. Não cabe ao ser humano pesquisar sobre o futuro, mas crer que o Senhor há de permanecer firme (fiel) diante de seus propósitos.

A imprevisibilidade não tem que ver com o Teísmo Aberto. Robert Green Ingersoll (Orador e líder político norte-americano, notável por sua cultura e defesa do agnosticismo nos idos do século XIX) disse: “Na vida não há prêmios nem castigos. Somente consequências”. Se, contudo, abraçarmos essa Teologia Relacional, a crença de que YHWH desconhece o futuro e a vida prossegue no ritmo das escolhas que o ser humano faz, será o próximo passo. Os prêmios e os castigos revelam tão somente a decisão acertada ou não de alguém. O que não se pode negar é o agir de Deus através das circunstâncias. Claramente se vê, na história de José, que o processo dorido de experimentar o desprezo e inveja dos irmãos (Gn 37:11), a escravidão (Gn 39:1), a injustiça (Gn 39:20), a ingratidão (Gn 40:14,23) foram meios utilizados por Deus para um determinado fim (Gn 50:19,20 - imprevisibilidade) - como exemplificado no eixo pessoal-relacional. O importante é pensar, então, como Hermisten Maia: “Deus é o Senhor da história, mas também das circunstâncias” (o que também podemos chamar de fidelidade imprevisível).

Confiar o futuro nas mãos de Deus e descansar plenamente seguro, pois seus planos são de paz e prosperidade (ainda que a figueira não floresça).

NA GRAÇA,
LELLIS

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