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Prossigo para um alvo

Não quero me dar por satisfeito. E não me dou. Ainda não sou quem gostaria de ser. A moldura está pronta, ainda que o envelhecimento modifique uns e outros modos de andar, olhar, perceber, respirar. Tenho por certo que a pintura está inacabada. Sinceramente, não sei se, mesmo atingindo 74 anos de idade, conseguirei assinar meu nome sobre a tela. É porque tenho a sensação de que não satisfarei meu ego. E dou ao menos dois motivos:

Primeiro: o desejo pelos registros históricos, pela antropologia, pelas ciências, pela religião ainda me consome. Há sobre minha mesa pilhas e pilhas de livros, artigos, teses, ensaios, (...) pra eu ler. Estão na fila. Tomo um livro já ansioso pelo outro. Ansioso porque não é simplesmente um livro, é mais uma cor na tela, mais um caminho, mais um retoque. Retoque sim, pois não dá pra desmanchar. O que tento desmanchar, borra. Tudo acaba fazendo parte - a cruz e a espada, inclusive. 

E não só os objetos de estudo, mas as conversas acabam sendo um brinde diante da tela. Os relacionamentos, a família, dos contatos mais íntimos aos mais esquecidos. Lá estão todos eles fazendo parte do que sou (incompleto) e quero ser. Meu objetivo não é a inércia frente a tela que me espera. É pintar todos os dias por aquilo que me suga, que apreendo, que deixa meu coração contente ou não. Cores frias, quentes... não importa... importa tudo... a gente seleciona, mas tudo está lá, fazendo parte. Pode não estar totalmente visível, mas um bom observador concluirá: "Notem este relevo! O artista conhecia 'isso'".

Esse meu discurso, talvez dure até os 74 anos. 

Segundo: Não sei se chegarei até lá. Esse é o momento em que se olha pra trás e diz: "Por que toda minha vida - obra - assim? Vaidade de vaidades..." Vaidade de vaidades? É que a gente pensa pouco no conteúdo. E é justamente o conteúdo que nos diz quem somos. Alcançando certo conteúdo tenho duas alternativas: Ou vivo de acordo com o que aprendi, ou negocio com o que estou sendo para que tão somente a moldura seja o que é: envelhecimento e envelhecimento... sem vaidades.

E por enquanto... é da vaidade que me alimento, pois um bom envelhecimento custa caro, como uma boa obra de arte.

NA GRAÇA
LELLIS

3 comentários

Laurinha disse...

Completamente incoformanda!!! O bom é que tenho a ajuda de muitas pessoas ilustres, como por exemplo o escritor deste artigo, nesse árduo processo.
Valeu Nelsinho seus artigos são demais!!!

NELSON LELLIS disse...

Gostei do "inconformanda".

Unknown disse...

Belo texto!
"É que a gente pensa pouco no conteúdo. E é justamente o conteúdo que nos diz quem somos. Alcançando certo conteúdo tenho duas alternativas: Ou vivo de acordo com o que aprendi, ou negocio com o que estou sendo para que tão somente a moldura seja o que é: envelhecimento e envelhecimento... sem vaidades."
Bem profundo,gostei. Seus escritos aguçam meus pensamentos ;)

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