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Perspectivas sobre a justiça

Não foram poucas as vezes em que ouvi as frases: “entrega pra Deus, Ele resolve”; “deixa Deus fazer justiça que o fulano verá com que está mexendo”; “Deus é a sua justiça e você ganhará essa causa”.

Olhando para o A.T. consigo enxergar uma generosa base para tais afirmativas. Todavia, quando me deparo com o Cristo, não. Não que Cristo não tenha poderes para ajudar, mas que sua mensagem sobre o comportamento humano-religioso se dava por outra tônica.

As portas das religiões estão cada vez mais escancaradas e o cardápio é vastíssimo. A umbanda, religião afro-brasileira, gestada no berço carioca nos idos de 1920, também trabalha com a questão da justiça. Seus agentes funcionam. A eficácia dos trabalhos sob demanda é testemunhada. Milhares de pessoas pagam por isso.

Nas igrejas evangélicas não é tão diferente. As causas são levadas aos templos a fim de serem resolvidas. Atribuirão a Deus, com toda a certeza, mas muitos propagandistas dirão: “é só dizimar, é só ofertar que o negócio é rentável”.

Segundo Lísias Nogueira Negrão, “a umbanda assenta-se na vida real, no cotidiano de subalternos e carentes”. Permitam-me transcrevê-lo:

A justiça, vista pela ótica dos subalternos, despossuídos, marginalizados ou precariamente dispostos nos lugares sociais, aparece assim como fundamento moral da prática mágica umbandista. Esta moralidade peculiar, que legitima a punição dos maus por suas próprias vítimas, está bastante distanciada da moralidade vigente, apesar dos linchamentos frequentes e da ambígua presença dos “justiceiros” entre aqueles. A concepção religiosa predominante tenta obscurecer o caráter necessariamente mercantil das trocas religiosas e atribuir o castigo à vontade de Deus, aqui ou no além. No máximo, admite o castigo neste mundo à competência do Estado, de forma despersonalizada e formal. Na umbanda, não; a troca econômica é traço evidente e necessário, embora também obscurecida em alguns terreiros mais identificados às vigências religiosas. A prática do castigo aos ofensores pelos próprios ofendidos, mediante a utilização de recursos simbólicos, é peculiaridade sua, compartilhada com os demais cultos afro-brasileiros. (NEGRÃO, Lísias Nogueira. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo Social; Ver. Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 113-122, 1993 (editado em Nov. 1994), p. 121.)


Até aqui, parece não haver diferença.

Onde poderíamos forçar a barra para separarmos esses elementos de justiça? Pelas normas. Normas?

O apanágio de Jesus é o amor. Amor, inclusive ao inimigo. Ao inimigo não se aplicaria dessa justiça mágica, nem se pediria para que Deus “cuidasse” dele, antes, que o abençoasse. O perdão não exime o culpado de sua culpa, mas retira do ofendido um peso adoecedor. Não há dizímo ou oferta para Deus que concederão bons sonhos. Até porque, que eu me lembre, a oferta tem de ser esquecida até que se reajuste a comunhão com o indivíduo.

Com esse sincretismo todo, bem que poderia escrever: “você e eu somos, servos de Oxalá, que deveremos dar conta disso”. E isso é assunto pra manga. E eu tô pagando pra ver...

NA GRAÇA
LELLIS

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