O Nome de Deus
Não há nenhuma pretensão em se pontuar questões exegéticas por aqui, embora usemos palavras de seu contexto original. Um dos objetivos é tentar conceituar a importância do nome de Deus um povo que se chama pelo seu nome.
Numa breve exposição sobre o nome de D’us, é importante entender que o próprio povo hebreu não o possuía. י־הוה é o seu nome. Não havia vogais, por isso, o nome se torna "impronunciável" (após o comentário do Fraga, senti-me obrigado a colocar aspas nesta palavra para ser compreendido). Segundo a tradição hebraica, é proibido tomar o nome de D’us em vão. O tetragrama, após os massoretas adicionarem sinais como vogais (יֽ־הוָה = YaHWeH) passou a ser lido nas traduções em português אַֽ־דנָי (Adonai = O Eterno). Em outras leituras se lê הַשֵׁם (O Nome).
Os antigos dizem que os escribas carregavam uma pena tão somente para o nome de D’us vindo depois queimá-la, tamanha a reverência com O Nome.
Desse D’us não se tem registros. É apenas no exílio que os judeus se dão conta que precisam se organizar para não perderem o gênesis do seu povo. Ora, vem do Criador de todas as coisas. Quem é esse Criador? Daí, a escola sacerdotal (P) toma seu lugar para (d)escrever o בראשׁית (Bereshit = no princípio). Mas é o criador de todas as coisas ou o criador de Judá? As rinhas teológicas discutem o assunto.
Nossa proposta é, afinal, procurar entender um pouco desse nome e seu significado. É sabido que o nome apresentava a identidade de alguém. São notáveis as tantas vezes em que nomes são modificados com a finalidade de assumirem uma nova postura seja profética ou identitária. Abrão para Abraão, por exemplo. E como ninguém sabe o nome de D’us, quem sabe quem é D’us? Qual é sua identidade?
O grande mistério paira sobre toda a gente que se priva de conceitos axiomáticos. Pode se orgulhar aquele que conhece o Seu nome. Logo, se orgulha aquele que O conhece. E quem O conhece?
Para os cristãos, Yeshua não é o nome de D’us, mas do D’us encarnado, do homem. Os títulos Messias, Ungido, Cristo, servem para a linguagem humana. A própria encarnação é linguagem humana – para que pudessem conhecer a Deus.
Isto é, para os cristãos, dá para conhecer a Deus através de Jesus. Jesus é a substância, a plenitude do Pai. É claro que na visão dos judeus, isso não passa de idolatria. Não há trindade para o judeu. Essa coisa de três em um não pode ser explicada como um mistério. É idolatria e ponto.
Os cristãos notam a trindade em toda a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamentos. Ora, não há trindade mesmo no Antigo Testamento. Se formos analisar pela própria história, fora Marcião quem força os cristãos a decidirem, pois em sua visão, o D’us do A.T. é diferente do N.T. O que entra no cânon, então? A resposta foi justamente essa: O N.T. dá continuidade ao A.T. Ou seja, o Antigo é relido com ótica totalmente cristã colocando sobre este as marcas do Novo.
Quem conhece a D’us? Quem tem a capacidade de determinar que o D’us veterotestamentário é o mesmo do “período da graça”? A política cristã.
Ninguém sabe quem é D’us, a não ser que se tome Jesus como resposta definitiva. E mesmo assim, não se pode fechá-lo numa caixa e limitá-lo aos Evangelhos. Jesus, sendo o próprio D’us, seria muito mais do que a sua biografia registra. Sabemos disso.
A reação que se teria diante dO Nome é apenas um suspiro. Não há o que dizer, não há o que pronunciar, pois não se pode enclausurá-lo no dogma, nas estruturas eclesiásticas, nos conceitos já determinados pela historicidade filosófica. De D’us não se tem nem o nome.
O Nome vive sem identidade, sem conselheiros, sem disputas e anarquias por reinos espirituais. Ele não vive de música, de aplausos, de confetes. O Nome não depende do Livro. O Livro depende dO Nome. Da mesma forma que O Nome não depende da criação do mundo nem de um povo. O Nome não depende. Se nada criasse, continuaria a ser.
Fica aqui apenas uma reflexão do que temos feito dO Nome. Temos exagerado ou limitado? Temos sido honestos ao dizer que O conhecemos totalmente? Temos pronunciado e falado em nome desse Nome com a finalidade de aprisionarmos pessoas ou libertá-las? Sim, pois a partir do momento em que acreditamos conhecer plenamente e fazemos com que outros acreditem nisso, temos um povo nas mãos. E o que fazemos, então? Agimos como se tivéssemos todas as respostas e caminhos? Assumimos o discurso arché e direcionamos os sedentos à perdição de uma salvação?
A saída é vivermos assustados, embevecidos com a beleza invisível dO Nome; apresentando-o como aquele que é - apesar do discurso humano, mormente das igrejas. O resultado de uma sociedade encabrestada pela hermenêutica eclesiástica é o que tem de pior. Mas, a caminhada promete. Enquanto isso, tenhamos a capacidade de entendermos que somos incapazes de fichá-Lo ou colocar um crachá em seu peito.
LELLIS
2 comentários
י־הוה é o seu nome que apesar de não haver vogais, ERA pronunciável, pois o hebraico não tinha vogais, mas era pronunciável (claro que não por todos, em todos os momentos). Esse "nome" na verdade era um verbo e não "nome" (deus também não é nome, é título) Verbo inclusive de ligação: ser, estar, permanecer, continuar...por isso o "Eu Sou". Eu, Lenilson Fraga, prefiro "Eu Estou", pois Sl 23:1 diz: י־הוה Roy Lo Rashem = Deus Senhor pastor não falta (está sempre conosco); Is 7:14 diz que seu nome seria: Imanu El = Deus conosco; Mateus 28:20 "Eis que ESTOU convosco todos os dias". Jo 14:3 "Para que onde Eu estiver, estejais vós também" e Jo 14:16 "E rogarei ao Pai, e dará outro consolador, PARA QUE, fique convosco para sempre"
Portanto quando diz: י־הוה diz na verdade que Ele é, o que você precisar, que Ele seja: Se tiver sede Ele é a água viva (corrente não parada - El Maim - Deus das águas), se tiver fome Ele é maná (que alimenta do bebê ao adulto - El Shadday - Deus Fértil), se tiver inimigos Ele é o escudo e o General que não perde batalha - El Sabauot), se tiver qualquer necessidade Ele verá = El Jire. Ele é TUDO em todos, conforme a necessidade de cada um 1 Co 12:6 Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. e 1 Co 15:28
Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos. E aí quem é Deus pra você? Como Ele se chama?
Prezado Fraga, é sempre bom ler sua reação.
Muito boa sua argumentação sobre Ha-shem (O Nome). De fato, o nome acaba não sendo nome, mas título, pois o caráter é quem dirige como é chamado.
Pronúncia: é claro que o hebraico se pronunciava, mas o nome era temido, por isso se dava nome de Deus de acordo com as circunstâncias - como bem colocaste.
O "Eu Sou" é "Eu aconteço". Isso nos dá claridade maior sobre o tema.
O objeto, afinal, é tão somente alertar para o que se tem feito com esse nome.
Obrigado pelo acréscimo.
Lellis
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