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O Natal das mulheres de Belém (Mateus 2)


O povo não aguardava um rei que fazia milagres, mas um ser cuja alma (bélica) devotasse a um instinto político que agregasse todo o querer de lutar pela liberdade de sua gente. O povo desejava um filho de Deus como Davi (Sl 2). Alguém que possuía gosto de sangue na boca. Ora, era da linhagem de Davi. O que esperar? Um rei nascido numa estrebaria? Um rei que andava no jumento enquanto era exaltado? De forma alguma!

O anseio era sobre alguém que pudesse proteger.

Quando nasceu, Herodes sentiu-se ameaçado. Ameaçado? Sim, pois a divulgação que se fazia do Messias por testemunho de muitos judeus não era a mesma que se veria nos Evangelhos. Era um testemunho de um poder revolucionário, de um reinado sem fim. Por isso, a ordenança é: "mate todos os meninos com idade até 2 anos".

A pequena cidadela, de aproximadamente uns 300 habitantes, vê-se em desespero total. Pranto! Gritos! Vazio! Que boa nova mais antagônica! Que natal mais infernal! Não tenho dúvidas de que aquelas mães desejariam perecer a eternidade e ver seus filhos crescendo e correndo ao redor delas. Não tenho dúvidas de que aquelas mães prefeririam acariciar seus filhos na realização do bar-mitzvá do que ter de chorar o choro do desespero com cada um, morto, no colo. Indefesos! Não tenho dúvidas de que aquelas mães desejariam seus filhos ao Filho de Deus! E tenho minhas dúvidas se eu não teria o mesmo sentimento. É bem provável.

Como Deus protegeria aquelas crianças, sendo que ele estava em rota de fuga para não ser morto? Será que precisaremos converter nosso pensamento para as ideias de Andrés Torres Queiruga, quando escreve sobre esperança, apesar do mal? Deus interfere ou não no mundo? Assim cremos. Não chegamos ao deísmo. Deus frequenta nosso mundo? Ora, não temos dúvidas. E como fica a questão desse mal? Esse mal tão descorado do natal das mulheres de Belém.

Bem, já sabemos que o dilema de Epícuro já fora ultrapassado, só nos resta saber se Deus se interessa por quem aconteceu o natal.

O sistema é caído. Ele, por isso, precisa sempre de uma cosmogonia (um refazer-se, um re-criar-se...). Por causa do esgotamento pela maldade, os homens carecem de uma nova estrutura. Essa nova estrutura é recriar o mundo a partir do início de tudo. O mundo é mau. As ações são más e levam a esse esgotamento. O natal é meio que uma cosmogonia. Algo está esgotado e precisamos renovar, recriar através da referência cristã (para os cristãos).

E se o mundo é mau, e se o homem é quem recria esse mundo através de encenações, Deus não se intromete na questão. Ele continua sendo protegido para não morrer.

Tudo de mais belo já morreu. Agora, é necessário que se proteja Deus.

Não é bem esse o pensamento, mas a consciência das mulheres de Belém poderia conjecturar desta forma.

Deus luta em favor dos seus, ainda que os contrários existam. Deus zela pelos seus, ainda que a morte invada a casa. É provável que as mães de Belém gritavam: "Crucifica! Crucifica!" com outros sentimentos daquela multidão.

E o que pensar do phatos de Deus Pai? O Abba de Jesus. O filho de Deus, protegido por homens e, agora, "abandonado" pelo próprio Deus na cruz?

Deus não pode interferir na morte das crianças de Belém. Deus não pode interferir na morte de Jesus em Jerusalém. Longe de mim responder a isso com Romanos 8 (todas as coisas cooperam...), porquanto, nosso apelo é que busquemos um mínimo de sensibilidade ou atearmos fogo no coração a fim de que sintamos um pouco de atração pela intensidade da vida. O natal expressa isso: intensidade de vida, de morte. De ardor, de sofreguidão, de perseverança, de lágrimas, de esperança.

Não tenho nenhuma palavra às mulheres de Belém pela chacina de suas crianças. Não tenho nenhuma palavra ao Abba sobre a morte de seu filho. Não tenho nenhuma palavra aos que perderam e ganharam por causa do nome de Jesus. Não tenho o que dizer aos que viveram para defender o menino Jesus. Não tenho o que dizer aos que advogam a causa dos filhos das mulheres de Belém. Só há uma pequena conclusão: se carecemos tanto de comemorar o natal, é porque há um esgotamento profundo de nossa humanidade; e o natal não é outra coisa senão trazermos a vida de Jesus para o nosso convívio.

Esperamos que as crianças de Belém brinquem em torno do Trono. Esperamos que essa esperança no nosso coração arda, apesar de todo o mal.

NA GRAÇA, QUE ME ENCHE DE ESPERANÇA (APESAR DO MAL)
LELLIS

2 comentários

Mariáh disse...

Precisamos MESMO dessa esperança (apesar do mal).

Rônia Malafaia disse...

Texto surpreendente!Excelente!
Nunca havia analisado o Natal das mulheres de Belém!Como se explicar paradoxos? Não consigo. Tentar desvendar os mistérios de Deus? Muito menos...
Que Ele continue iluminando seus olhos para que vejam além do visível!
Graça e Paz!
Rônia Malafaia

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