“Bem que desejaria irmanar todas as religiões possíveis. Sei que tentativas serão fracassadas. Minhas ideias são reducionistas para abraçar aquele que descrê de minha crença. Ao conversar com o diferente, poderia dizer: conversei com o diabo. Ao abraçar o inabraçável poderia receber o reconhecimento: fui abraçado por Deus.
Meus achismos religiosos são tão latentes que o pulsar destes estragam qualquer contato de amor e, quem sabe, proselitismo. São tantas preces orgulhosas, tantos retratos de deuses que invento para mim mesmo que até me imagino dono do céu e do inferno quando o outro se faz de desentendido e pensa de forma dissonante às minhas convicções. Por isso, reclama e acusa o meu coração: seus demônios são a sua religião. Ou deveria ele declarar: fez do "D"eus de sua religião, o seu próprio demônio.
O contato com o sagrado é aproximação de um Deus que revela seu lado divino e diabólico, a ponto do fiel se prostrar pelo terror de sua destruição, como diz Paul Tillich. E tomando emprestado o conceito de Tillich, fé é ser tomado por aquilo que nos toma incondicionalmente. Fé é o envolvimento completo com o objeto; e nós, como sujeitos, permitirmos que esse objeto viva e comande nosso eu.
Minha fé não pode responsabilizar o Foco para onde se debruça, porque pode ser minha fé uma fé idólatra. Lucubrando sobre esse ponto, Deus não pode ser responsabilizado pelo meu comportamento tão pré-conceituoso e reducionista. A questão é que meu relato apresenta uma fé em mim mesmo e não no Deus que eu creio. Sou entregue incondicionalmente aos prazeres de salvar e condenar o que pensa diferente. Meus argumentos se depauperam na mesa do orgulho e meus dedos em riste apontam contra o outro e exaltam minha estranha decadência espiritual.
Sou realmente quem penso ser? Sou o foco do sagrado? Sou o escolhido para tal serviço? Seria eu a abóbada, o pináculo, o cume, a referência-mor do divino no tempo-espaço? Quem sou eu?
Minhas explicações não podem ecoar mais por essas páginas. Sinto-me impotente. O que me resta é tentar agora entender o que não sou. Talvez assim, encontre o verdadeiro sentido do que Deus sempre sonhou que eu fosse.”
NA GRAÇA,
LELLIS
2 comentários
Eu acredito na cura do egoísmo.
Marcos 8:36-37 “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que diria o homem em troca da sua vida?"
não é?
Tinhas razão, amei o texto.
"A questão é que meu relato apresenta uma fé em mim mesmo e não no Deus que eu creio. "
O que adianta ter fé em alguém, sendo que esse alguém não pode te salvar?
A questão é : devemos nos destronar, sempre.
Até!
Postar um comentário