Copeiro do Rei escreve...
Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos. SALMO 119:71
Lembro-me de - quando bem criança - sentir a textura do lençol da cama dos meus avós e isso era bom. Não é difícil recordar da primeira vez em que fui levado ao mar. Como foi bom segurar as mãos dos meus pais após eu achar que haviam me esquecido na escola depois de um dia tão esquisito. Tremendo foi o dia em que me casei com a pessoa mais fascinante dessa terra. Inesquecível quando o médico diagnosticou que o tumor havia sumido do útero da minha esposa de forma milagrosa. Foi arrebatador descobrir que eu seria pai.
Sensações importantes e indiscutivelmente boas.
É-nos, portanto, estranho deparar com este texto e dizer: “Foi-me bom passar por aflições” porque bom é quando passamos por situações em que temos o prazer em contar que aquilo que é bom foi realmente bom. A nossa mente é muito curta e imatura para assumirmos a postura de que sobre a aflição eu posso dizer que foi bom ter passado por ela.
Deus nos concede o Espírito Santo. Ele é tremendamente sensível. Ele possui sentimentos incomparáveis. Podemos ver através das Escrituras o Espírito de Deus se alegrando e se entristecendo, motivando e dizendo “Eu não irei mais com vocês”, regozijando e sofrendo, enchendo e deixando vazio, sendo desprezado, deixado com ciúmes, sendo inflamado ora pelo amor ora pela ira, ferido, sorrindo e chorando, etc.
A sensibilidade do que é bom e o que não é todo mundo tem, mas apenas os que possuem o Espírito Santo é que podem tirar o bom do que não é bom. Apenas aqueles que foram batizados com o Espírito Santo da promessa é que têm a possibilidade de dizer: “Foi-me bom ter passado pela aflição”.
E por que temos de achar algo bom naquilo que é relativamente ruim? Porque em um mundo caído, fomos alertados que as aflições estariam presentes. E se dela não tirarmos proveito, a circunstância contrária fará com que nossa humanidade se torne amarga. A vida não dá tempo, não deixa ninguém descansar. A vida não é uma colônia de férias. A vida é algo sério. Não dá tempo de ensaiar ou escrever um rascunho. Ela acontece ao vivo.
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Foi-me bom passar pela aflição para saber que minha esposa é muito mais do que esposa, mas a metade que se transformou em 100% quando eu era nada. Foi-me bom passar pela aflição porque vi amigos simples me ensinando com palavras livres de teologia e conhecimento profundo sobre o profundo saber da vida e espiritualidade. Foi-me bom passar pela aflição porque vi o que família é capaz de fazer quando se precisa dela de madrugada. Foi-me bom passar pela aflição para ser afligido mais ainda por satanás e ter maior convicção de que ele quer me destruir e que não quer nada de bom comigo. Ele não brinca, o jogo dele é sério. Foi-me bom passar pela aflição e trabalhar mesmo não tendo condições, mas ver que consegui chegar no final de mais um dia. Foi-me bom passar pela via dolorosa e encontrar pessoas testemunhando de Jesus dizendo: “Ele também passou por aqui e as marcas de sangue onde você pisa são dele. Ele já experimentou a via do chicote, da injustiça, da ingratidão...”. Foi-me bom passar pelo Getsêmane, quando minha alma, meu emocional estavam abalados pude sentir o cheiro do suor de Jesus naquele lugar que pingava no chão como gotas de sangue. Ele também havia estado ali. Quando eu mais precisava de amigos e pessoas íntimas, todos dormiam. Enquanto Jesus chorava e sentia depressão profunda, aqueles que comiam com ele, sorriam com ele, viam seus milagres acontecendo de perto, dormiam. Era a solidão do Getsêmane. Ele também esteve lá. Foi-me bom passar pela cruz, onde parecia que apenas eu estava sofrendo por uma causa justa e todos me prendiam no lugar mais ridículo para matarem meus sonhos e ideais. Mas ali pude ver as marcas de Jesus que também passara por ali. O seu sangue manchava a cruz. Manchava o chão. Manchava minhas próprias vestes. Manchava meu corpo. Manchava minha vida. Como foi bom passar pela aflição e descobrir que em todo o momento, mesmo que as pessoas que mais amava não estivessem por perto, Jesus estava lá. Ele havia passado por cada situação. O “Homem de Dores”, experimentado em quaisquer vicissitudes da vida, estava permitindo que eu me identificasse com suas dores. Oh! Como foi-me bom passar pela aflição e poder reconhecer o quão posso ser forte na minha fraqueza por causa do poder de Deus que se aperfeiçoou em mim neste tempo! Foi-me bom passar pela aflição e poder ver Deus como nunca vi. Foi-me bom passar pela aflição e entender intimamente que as aflições do tempo presente não podem ser comparadas com o peso de glória que está por vir.
As aflições têm um fim: o fim de conhecer. E se não atentarmos para isso, será o nosso fim.
NA GRAÇA, QUE SEMPRE É MELHOR DO QUE A VIDA
LELLIS
Um comentário
Estou ávido por escrever um texto assim, meu jovem filho. Creio que o poderei fazer quando a aflição pela qual passo cessar. Contudo, é bom saber que alguns passaram e dela saíram. Não ilesos, pois isso não me serviria de nada, mas marcados para sempre. Testemunhas eternas de uma dor que nos amanhece e engravida.
beijo carinhoso.
liberdade, beleza e Graça...
http://cleintongael.blogspot.com
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